domingo, 15 de janeiro de 2017


Quadro de Avisos

 

                            Certo dia aparece um primeiro desenho de certa pessoa na porta da casa ou na entrada do prédio, com uma data, em que ela efetivamente morre.

                            Isso dá um filme.

                            A seguir, pelo mundo inteiro começam a aparecer os avisos, alguns para logo, outros para bem adiante, anos na frente. Isso para responder ao desejo de alguns de saber de sua morte, porque parece uma coisa boa. Aqueles que recebem o aviso com anos de antecedência começam a ser atacados pelos que vão morrer logo: “por quê essa preferência? ” Ao passo que inicialmente livres os que vão morrer bem adiante acham bom poder organizar os negócios. Entrementes, principia um movimento de tentar evitar a morte de todo modo, o que, pela dialética, só acaba por levar a ela.

                            Também acontece de as pessoas pressionarem o governo pelo fim das fotos com datas, o governo se mostrando impotente para tal. Começa um lento processo de desobediência civil e corrosão da autoridade – quem mais quer trabalhar? Debates intensos se dão. A mídia divulga amplamente, não há notícia mais importante de início. As empresas de seguros vão a pique, há toda uma série de desdobramentos, o roteirista pode pensar.

                            Vitória, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002.

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