terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Precedência Ocidental

 

                            No livro de Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia, vol. I, São Paulo, Paulinas, 1990, p. 543, eles dizem: “Mas a cultura árabe que penetrou no Ocidente, em sua maior parte, era cultura grega traduzida em árabe”.

                            É claro que todos os povos produziram. Antes dos europeus chegarem às Américas em 1492 (outras visitas houveram, mas falemos da visita oficial), os maias, os incas, os quíchuas, os moches, os astecas, os toltecas e outros produziram muitas coisas notáveis. E certamente o Oriente todo tinha culturas antigas. Os gregos tomaram grande parte de seu conhecimento, a partir do século XII ou XIII a.C., dos egípcios e de outros povos com os quais entraram em contato, já tardiamente, porque a Suméria é de 3500 a.C., e Mohenjo Daro, Harappa e Jericó são de nove mil antes de Cristo. Entrementes, é certo que os gregos deram elaboração MINUCIOSA ao conhecimento, perguntando pelas causas, pelo POR QUÊ, e não unicamente pelo COMO, isto é, explicação das origens e não dos processos, neste caso unicamente como descrição, do tipo que alguém daria do funcionamento de um ferro elétrico, dizendo que ele esquenta a chapa em baixo, esta o tecido, tirando seus vincos. Por baixo disso há o realinhamento das fibras do tecido, as forças moleculares que o sustentam desta ou daquela forma, a eletricidade que corre no fio, a interação dela com os átomos do metal da chapa, etc., causas cada vez mais recuadas e mais profundas.

                            Embora com dois mil e trezentos ou até (500 a.C.) três mil anos de distanciamento e atraso em relação a outros povos mais velhos em termos de civilização, foi quando os ptolomeus ocuparam o Egito que transformaram Alexandria, fundada por Alexandre Magno, um grego, em centro grego de estudos que funcionou como universidade por 700 anos, contaminando todos os países ao redor com um princípio de pensamento científico metódico. Por pouco não chegaram a dar o salto.

                            Então, as coisas vieram mesmo dos gregos, que atingiram os romanos, os do norte da África, a Índia, o norte da Europa; através de Roma toda a Europa ocidental, etc. E por meio do islamismo vastas regiões da Terra, voltando à Europa através da Espanha e de Portugal sob domínio muçulmano e com a Queda de Constantinopla por meio de Veneza, Florença e da Itália em geral.

                            Por sua vez a Europa espalhou-se e impôs seu modo de vida e de percepção do mundo a toda a Terra, felizmente, porque em muitos lugares quando não praticavam canibalismo matavam cerimonialmente pessoas às centenas de milhares ou submetiam populações a sevícias e o povo a vexames. Com o amplo desenvolvimento tecnocientífico e do Conhecimento geral, mais as lições de Cristo na base, os europeus realmente tornaram-se o molde em que o planeta humano vem sendo moldado.

                            Agora, quando olhamos o mundo, fora as roupas nacionais japonesas, os turbantes e as vestimentas árabes características, as dos hindus e mais alguma coisa, QUASE TUDO é de fundo ocidental, procede de um modo ou de outro da inventividade ocidental, de modo que posso declarar que a precedência européia é amplamente vencedora. Há coisas ruins, naturalmente, mas há muitas coisas boas e significativas, do maior valor. Carros, televisores, dezenas de milhões de invenções a serviço de toda a humanidade são resultado da operosidade ocidental, ou da cópia direta e indireta dela. Acho que os povos não precisam se sentir vexados, assim como não ficamos com o fato de que os sumérios, os egípcios, os persas, os chineses inventaram tantas coisas antes. É patrimônio geral, mas devemos reconhecer que, neste instante, os ocidentais deram seu legado ao mundo humano.

                            Vitória, terça-feira, 29 de outubro de 2002.

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