Precedência Ocidental
No
livro de Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia, vol. I,
São Paulo, Paulinas, 1990, p. 543, eles dizem: “Mas a cultura árabe que
penetrou no Ocidente, em sua maior parte, era cultura grega traduzida em
árabe”.
É
claro que todos os povos produziram. Antes dos europeus chegarem às Américas em
1492 (outras visitas houveram, mas falemos da visita oficial), os maias, os
incas, os quíchuas, os moches, os astecas, os toltecas e outros produziram
muitas coisas notáveis. E certamente o Oriente todo tinha culturas antigas. Os
gregos tomaram grande parte de seu conhecimento, a partir do século XII ou XIII
a.C., dos egípcios e de outros povos com os quais entraram em contato, já
tardiamente, porque a Suméria é de 3500 a.C., e Mohenjo Daro, Harappa e Jericó
são de nove mil antes de Cristo. Entrementes, é certo que os gregos deram
elaboração MINUCIOSA ao conhecimento, perguntando pelas causas, pelo POR QUÊ, e
não unicamente pelo COMO, isto é, explicação das origens e não dos processos,
neste caso unicamente como descrição, do tipo que alguém daria do funcionamento
de um ferro elétrico, dizendo que ele esquenta a chapa em baixo, esta o tecido,
tirando seus vincos. Por baixo disso há o realinhamento das fibras do tecido,
as forças moleculares que o sustentam desta ou daquela forma, a eletricidade
que corre no fio, a interação dela com os átomos do metal da chapa, etc.,
causas cada vez mais recuadas e mais profundas.
Embora
com dois mil e trezentos ou até (500 a.C.) três mil anos de distanciamento e
atraso em relação a outros povos mais velhos em termos de civilização, foi
quando os ptolomeus ocuparam o Egito que transformaram Alexandria, fundada por
Alexandre Magno, um grego, em centro grego de estudos que funcionou como
universidade por 700 anos, contaminando todos os países ao redor com um
princípio de pensamento científico metódico. Por pouco não chegaram a dar o
salto.
Então,
as coisas vieram mesmo dos gregos, que atingiram os romanos, os do norte da
África, a Índia, o norte da Europa; através de Roma toda a Europa ocidental,
etc. E por meio do islamismo vastas regiões da Terra, voltando à Europa através
da Espanha e de Portugal sob domínio muçulmano e com a Queda de Constantinopla por
meio de Veneza, Florença e da Itália em geral.
Por
sua vez a Europa espalhou-se e impôs seu modo de vida e de percepção do mundo a
toda a Terra, felizmente, porque em muitos lugares quando não praticavam
canibalismo matavam cerimonialmente pessoas às centenas de milhares ou
submetiam populações a sevícias e o povo a vexames. Com o amplo desenvolvimento
tecnocientífico e do Conhecimento geral, mais as lições de Cristo na base, os
europeus realmente tornaram-se o molde em que o planeta humano vem sendo
moldado.
Agora,
quando olhamos o mundo, fora as roupas nacionais japonesas, os turbantes e as
vestimentas árabes características, as dos hindus e mais alguma coisa, QUASE
TUDO é de fundo ocidental, procede de um modo ou de outro da inventividade
ocidental, de modo que posso declarar que a precedência européia é amplamente
vencedora. Há coisas ruins, naturalmente, mas há muitas coisas boas e
significativas, do maior valor. Carros, televisores, dezenas de milhões de
invenções a serviço de toda a humanidade são resultado da operosidade
ocidental, ou da cópia direta e indireta dela. Acho que os povos não precisam
se sentir vexados, assim como não ficamos com o fato de que os sumérios, os
egípcios, os persas, os chineses inventaram tantas coisas antes. É patrimônio
geral, mas devemos reconhecer que, neste instante, os ocidentais deram seu
legado ao mundo humano.
Vitória,
terça-feira, 29 de outubro de 2002.
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