Os Que São Sofisticados
Por toda a minha
vida tenho visto a excessiva sofisticação como uma excrescência, uma
desarmonia, uma mutilação do ser. É uma cadeia sem grades, uma quantidade
imensa de rituais que aprisionam as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e
empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo – neste caso
com o nome de protocolo) sob rígidas regras de etiqueta, a pequena ética, como
disse Danuza Leão.
Saber sobre vinhos,
bebidas em geral, comidas, pastas, temperos e suas combinações, que tipo de
vinho cabe com que espécie dos inúmeros queijos; quais copos colocar à mesa com
quais garfos, e qual pegar em toda determinada situação, os risos afetados, as
precedências, os lugares na mesa, quando fazer salamaleques para quem, etc.,
tudo isso é muito aborrecido para quem pensa, torturantes marcas da prisão. Claro,
há gente que gosta, viva lá ela com isso.
Agora, isso nos
lembra que tais cerimoniais, implicando milhares e até dezenas de milhares de
linhas de programas a serem aprendidos para todas as situações da vida, além de
ser uma violência para os adultos é esgotante para as crianças. Como entender e
aceitar que desde o colo as crianças estejam obrigadas a essa pedagogia
ritualística, a esse aprendizado de labirintos, a essa torturante subtração da
personalidade e da liberdade? A soma zero nos diz que, desde já, tudo é 50/50,
havendo 2,5 % que vão supergostar disso, 47,5 % que tendem a tal e na margem
oposta os contrários/complementares. Há gente que gosta.
Contudo, há também
os livres, os que trocam esse mundo de significações entrecruzadas dos
“elevados”, dos “altos”, para poderem ter na vida direito de se manifestarem
como quiserem, com despojamento, sem saxes, sem pianos, sem todos os
superarranjos em que cada ponto tem um valor no julgamento dos circunstantes,
eca! Esses também não devem ser perturbados.
Vitória,
segunda-feira, 06 de janeiro de 2003.
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