terça-feira, 10 de janeiro de 2017


Oriental Ocidental

 

                            Um enredo para filme oriental, japonês, por exemplo, como se fosse feito por atores e atrizes e diretores e todo o pessoal japonês (e será mesmo, dupla filmagem). Sobre essa representação entrarão nos papéis, repetindo os gestos e o falar exagerado dos japoneses, inclusive sua alegria espontânea, seu caráter recatado e tão educado, sua postura correta, tudo, com as cabeças raspadas (de preferência durante o xogunato) os ocidentais, que comerão com pauzinhos, se sentarão agachados, professarão as crenças orientais, terão os valores orientais vestidos por ocidentais. Como soará cômico os japoneses rirão, mas no ocidente servirá, pelo relativismo cultural, para reposicionar as nossas mentes, permitindo o afastamento que leva à admiração.

                            Depois um outro, ocidental, com japoneses indo às igrejas, fazendo churrasco, cuspindo no chão, só que vestindo quimonos e com os objetos culturais de lá. Ou podem ser indianos, chineses, árabes, que povos forem, para DES-LOCAR, tirar os ocidentais de seus espaçotempo autocentrado, etnocentrado.

                            Fazendo uma série de filmes assim, porém com substrato ou script ou roteiro de primeira linha, com excelentes diretores, a sério mesmo, poderemos permitir a antropólogos trabalho privilegiado de campo, in locu mesmo, sobre como uns vêem os outros, através das entrevistas depois das exibições em todo o mundo, nas portas dos cinemas. As pessoas verão bons filmes como eles seriam filmados mesmo e rirão das imitações. Com isso verão que não é fácil encarnar os valores alheios (e, de lambuja, muitos atores e atrizes excelentes serão descobertos no projeto de dimensão mundial).

                           Vitória, segunda-feira, 02 de dezembro de 2002.

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