terça-feira, 10 de janeiro de 2017


Os Conselhos de Genovesi

 

                            No livro de Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia vol. II, São Paulo, Paulinas, 1990, p. 855 os autores falam do abade Antônio Genovesi (italiano 1713 a 1769, 56 anos entre datas), que ensinou na Universidade de Nápoles. Foi aluno de Vico (filósofo italiano, 1668 a 1744, 76 anos entre datas).

                            Dele dizem os autores: “As teorias econômicas de Genovesi iam à essência do problema. Ele enfrentou a questão do atraso e pretendeu contribuir para a sua superação incentivando ‘a vontade de um viver melhor, mais justo e mais próspero’. Enfatizava a civilização e a cultura para elevar o grau das necessidades e favorecer a produtividade e o consumo. Escreve ele nos Elementos de comércio: ‘Seria conveniente que não apenas os artesãos, mas também os camponeses e as mulheres soubessem um pouco (de cultura). Isso traria quatro grandes utilidades:1) tornaria a civilização mais universal; 2) inseriria a ordem e a economia na maior parte das famílias; 3) daria forma à engenhosidade de muitos e lhes mostraria o uso que se pode fazer dos talentos que Deus nos deu; 4) melhoraria as artes e as tornaria mais expeditas e difundidas’.

                            “Genovesi sentia-se educador do povo, porque encontrou muitos mestres de fraude e de furto, mas pouquíssimos mestres de justiça e razão. Ele propunha como modelo o povo inglês, industrioso e audaz, contrapondo-o ao espanhol, lerdo e vaidoso. Aconselhou os intelectuais a porem fim à cultura das palavras, passando a se dedicar mais à cultura das coisas, interessando-se, por exemplo, pela mecânica e agricultura”, coloridos meus.

                            Vamos então listar os conselhos de Genovesi.

1.    Elevar o grau das necessidades (não o número delas, e sim primar por seu refinamento, sua seleção não abusiva – o contrário da nossa civilização contemporânea, centrada no hiperconsumo);

2.    Engenhosidade de muitos (sistema de patentes, diríamos);

3.   Ensinar aos camponeses (analfabetos) e mulheres;

4.   Favorecer a produtividade e o consumo (de todos, certamente);

5.   Imitar os industriosos e audazes (empreendedores);

6.   Inserir ordem e controle nas famílias;

7.    Melhorar e difundir as artes;

8.   Passar da supervalorização das palavras à valorização das coisas, da distribuição de facilidade ao povo;

9.   Tornar a civilização mais universal;

10. Vontade de viver melhor, mais justo, mais próspero.

E outros conselhos, não citam todos.

Como se vê, Genovesi realmente foi à essência dos problemas e passados 233 anos do fim de sua vida ainda estamos com a maioria dos pontos não-estabelecidos. Quer dizer que essa civilização ainda é pré-moderna, e não pós-moderna, como dizem. Embora tenha sido contra os espanhóis, não tendo visto que se trata de ciclo, deu conselhos práticos, diretos.

E aí podemos ver como seria útil voltar a ler os antigos filósofos, para verificar o contraste entre seus conselhos e a realidade tal como existe no agoraqui. Podemos perceber como aqueles filósofos, tanto os grandes quanto os pequenos, não estão ultrapassados, longe disso, visto que atacam os problemas em sua fonte mesmo, como Beccaria e outros. Enfim, vale a reedição dos filósofos menores e sua leitura ou re-leitura.

Vitória, terça-feira, 03 de dezembro de 2002.

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