terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Observador

 

                            Como eu já disse, não observamos mais como indivíduos, apenas, e sim como pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundo), em níveis crescentes. O indivíduo “puro” não existe mais.

                            Na Vida da Escola (pré-primeiro grau, primeiro grau, segundo grã, universidade, mestrado, doutorado, pós-doutorado e pesquisador) ou meramente na Escola da Vida, pegando aqui e ali um modo de prestar atenção e proceder, os indivíduos não estão mais isolados, nunca estiveram, desde os macacos.

                            Então, na mesopirâmide políticadministrativa governempresarial pessoambiental, vamos vendo em oito níveis crescentes, começando nos indivíduos e chegando ao mundo. Agora mesmo estou escrevendo num teclado do programáquina à minha frente. É um computador de 1,3 GHz, 20 gigabytes de memória, com programas excepcionais da Microsoft ajudando (bem como dezenas de enciclopédias auxiliares, mais o Houaiss e o Michaelis eletrônicos), fora as enciclopédias de papel, livros, todo um aprendizado passado, etc., enfim, um aparato gigantesco que foi se somando em dez mil anos de avanços civilizantes. Como eu poderia fazer algo de relevante sendo apenas o indivíduo ignorante que eu seria sem o amparo de minha coletividade?

                            Para o bem e para o mal estou rodeado de condicionantes culturais/nacionais do povelite mundial.

                            Então, quando observo, coloco lentes à minha frente e observo com as distorções que estão implícitas em sua construção, com as aberrações próprias dos modos políticadministrativos do Escravismo, do Feudalismo, do Capitalismo (em sua terceira onda), do Socialismo, do Comunismo e por fim do Anarquismo, cada vez mais refinadas e mais precisas, mais transparentes e potentes.

                            É muito diferente ser observador (em qualquer um dos cinco níveis) em 2002 e na época de Aristóteles ou na Idade Média ou no Iluminismo. É diferentíssimo observar no primeiro mundo e no quarto. Como seria a mesma coisa fazê-lo com todo vagar num gabinete de universidade, com pagamento garantido no final do mês, e num quarto apertado da periferia, sem saber se haverá alimento para o dia seguinte?

                            Tais dessemelhanças nunca foram devidamente investigadas a fundo, em toda a geo-história, para saber como a Psicologia (figura, objetivos, produção, organização e espaçotempo) interfere no ato de observar.
                            Vitória, sexta-feira, 01 de novembro de 2002.

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