O Vício das Palavras
Quando
eu disse que comer era um vício implantado na gente principalmente pelas mães,
um certo e falecido JW, que trabalhava para o Ministério da Fazenda no PF
Amarílio Lunz, em Pedro Canário, divisa com a Bahia, riu, achou que era brincadeira.
Não
era.
De
fato, é um vício, e um vício que leva alguns a doenças variadas, entre as quais
a obesidade, de que padecem 25 % dos brasileiros e 50 % ou mais dos americanos
– para se ter idéia da gravidade de tal vício.
Mas,
o vício das palavras atinge quase 100 % da humanidade, se não a todos. Nós
falamos obsessivamente. Para quem pensa que não, lembre-se que ouvimos rádio,
vemos/ouvimos TV, lemos jornais, revistas, Internet, livros. Quando não, como
eu, estamos escrevendo. Dialogamos. Falamos sozinhos em som alto ou em nossas
cabeças (dizemos “com nossos botões”). Nós falamos o tempo todos, pelo menos 16
horas por dia ¾, 75 % do nosso tempo, e às vezes também dormindo, quando
estamos parcialmente livres da prisão das palavras.
Como
se diz do gene, poderíamos dizer num exagero idealista que a palavra é egoísta;
construiu o ser humano para que fosse falada. Na Bíblia se diz que “No
princípio era o Verbo”. Não só no princípio, no meio e no fim também, pois a
palavra se dirige à total abstração, à Tela Final, onde Deus, um só, compreende
e integra tudo. Lá, na abstração total, a Palavra não precisa mais dos seres
corpóreos.
A
palavra é tão poderosa que quando Tim Tones tirou aqueles infelizes à palavra
pelo suicídio coletivo nas Guianas, houve um clamor mundial. Todo suicídio é
suspeito, a eutanásia é condenada, tudo que tire o ser humano à escravidão da
palavra. Quando, mais vastamente, os seres humanos fogem à civilidade pela
agressão sociopática ou psicopática, é a palavra da Lei que estão negando, e,
como denunciou Foucault, são vigiados e punidos. Isso rende milhares de teses
de mestrado e doutorado.
Poucos
fogem ao poder excessivo da palavra e somente conseguem isso se escondendo em
selvas, em desertos, ou no Ártico ou na Antártica. Entretanto, levam consigo o
poder da palavra, porque dentro de suas cabeças continua (m) ressoando uma ou
mais línguas. E onde quer que se leve um comunicador ou um (a) companheiro (a)
humano (a), lá estará a palavra.
Inescapável,
viciante palavra.
Vitória, terça-feira, 12 de novembro de
2002.
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