domingo, 15 de janeiro de 2017


O Imortal

 

                            Por conta de Highlander (Montanhês, em inglês, eu acho), o filme inicialmente interessante que foi se arrastando como série até o fim melancólico no quarto episódio, fizeram uma série sobre um imortal = ANJO = SOLDADO = AMADO = SUJO = POBRE, etc., q.v. Grade e Rede Signalíticas, Livro 2.

                            Daria um filme piloto e uma série muito mais interessante se os problemas de ser imortal fossem realmente discutidos.

                            Nos primeiros anos não morrer se revelaria interessantíssimo, mas logo começariam a morrer à volta os amigos, os parentes, a esposa. Até os inimigos morrerem traria sofrimento. Sucessivamente cada esposa envelheceria e morreria. As coisas mudariam com uma velocidade tremenda, relativamente. O conforto de ter coisas conhecidas à volta iria para o brejo. Ademais, fica o problema central de estar sempre jovem, quando outros vão envelhecendo. Pode-se disfarçar durante um tempo, mas logo a pessoa deve mudar de cidade, de país. E quando houvesse um acidente do qual não fosse de modo algum possível sobreviver, como o imortal justificaria tê-lo feito? É fácil amar a mulher quando se vai envelhecendo junto, mas o que seria ter 25 com uma mulher de 70 ou 80? E quanto aos problemas de dinheiro, contas a pagar, compras a fazer, lixo a colocar para fora, adquirir roupas por uma eternidade? Haveria uma tentação de se tornar riquíssimo, mas logo isso se revelaria uma tolice.

                           Depois, já que o impulso sexual não vai embora, deve-se controlar muito bem a descendência, para não cometer incesto com as bisnetas e tataranetas. Seria preciso ter uma árvore genealógica enorme. E fica a questão de um conhecimento crescente, cada vez mais apurado, com tempo infinito para ler e aprender. Quantas universidades o fulano freqüentaria? Como foi bem mostrado no filme O Feitiço do Tempo, com Bill Murray, com tempo ilimitado pode-se ficar sabendo de tudo, mas agoraqui não seria o mesmo dia. Comparado com as demais pessoas o Imortal saberia quanto? Viria o desespero de ter de se manter atualizado, sem nunca poder descansar na velhice e na aposentadoria?

                            Enfim, a questão proporciona ilimitados exercícios, no fundo bem angustiantes. À primeira vista parece bom ser imortal, mas seria mesmo?

                            Vitória, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002.

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