O Imortal
Por
conta de Highlander (Montanhês, em inglês, eu acho), o filme
inicialmente interessante que foi se arrastando como série até o fim
melancólico no quarto episódio, fizeram uma série sobre um imortal = ANJO =
SOLDADO = AMADO = SUJO = POBRE, etc., q.v. Grade e Rede Signalíticas,
Livro 2.
Daria
um filme piloto e uma série muito mais interessante se os problemas de ser
imortal fossem realmente discutidos.
Nos
primeiros anos não morrer se revelaria interessantíssimo, mas logo começariam a
morrer à volta os amigos, os parentes, a esposa. Até os inimigos morrerem
traria sofrimento. Sucessivamente cada esposa envelheceria e morreria. As
coisas mudariam com uma velocidade tremenda, relativamente. O conforto de ter
coisas conhecidas à volta iria para o brejo. Ademais, fica o problema central
de estar sempre jovem, quando outros vão envelhecendo. Pode-se disfarçar
durante um tempo, mas logo a pessoa deve mudar de cidade, de país. E quando
houvesse um acidente do qual não fosse de modo algum possível sobreviver, como
o imortal justificaria tê-lo feito? É fácil amar a mulher quando se vai
envelhecendo junto, mas o que seria ter 25 com uma mulher de 70 ou 80? E quanto
aos problemas de dinheiro, contas a pagar, compras a fazer, lixo a colocar para
fora, adquirir roupas por uma eternidade? Haveria uma tentação de se tornar
riquíssimo, mas logo isso se revelaria uma tolice.
Depois,
já que o impulso sexual não vai embora, deve-se controlar muito bem a
descendência, para não cometer incesto com as bisnetas e tataranetas. Seria
preciso ter uma árvore genealógica enorme. E fica a questão de um conhecimento
crescente, cada vez mais apurado, com tempo infinito para ler e aprender.
Quantas universidades o fulano freqüentaria? Como foi bem mostrado no filme O
Feitiço do Tempo, com Bill Murray, com tempo ilimitado pode-se ficar
sabendo de tudo, mas agoraqui não seria o mesmo dia. Comparado com as demais
pessoas o Imortal saberia quanto? Viria o desespero de ter de se manter
atualizado, sem nunca poder descansar na velhice e na aposentadoria?
Enfim,
a questão proporciona ilimitados exercícios, no fundo bem angustiantes. À
primeira vista parece bom ser imortal, mas seria mesmo?
Vitória,
quarta-feira, 11 de dezembro de 2002.
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