domingo, 15 de janeiro de 2017


O Imortal II

 

                            Continuando, imagine um imortal real.

                            Por mais que ele guardasse segredo acabaria vazando, o que incomodaria demais as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e aos ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo), quer dizer, aos governempresas políticadministrativos pessoambientais.

                            Só para sondar a questão genética, os “genes da imortalidade” (porque, sendo físico/químico, biológico/p.2, psicológico/p.3, o Imortal está inserido em tudo que é do mundo) passariam adiante, mesmo enfraquecidos? Seria ele estéril? Se sim, como conviveria com isso, de não ter prole?

                            Depois, quais seriam sucessivamente suas participações na guerra e na paz, nos governos e nas empresas, nos pares polares opostos/complementares todos? Quanto poder acumularia? Pelo fato de não ser punível a impunidade cravaria quais males em sua criação ou coração? E cada vez que acumulasse fortuna e fingisse a morte, deixaria para quem? Um imortal é um candidato evidente a soldado, porque pode matar sem nunca ser morto. Na realidade seria um assassino contratável da mais alta estirpe. Que culpas acumularia ao longo do tempo?

                            Naturalmente poderia visitar todos os países e aprender de todas as culturas. Só isso já o tornaria precioso a uns e extremamente perigoso para outros. Como ele lidaria com o fato de estar sempre esquecendo (porque ele é apenas imortal, por definição do exercício, não tendo uma mente infinita em termos de possibilidade de depósitos e extrações)? De qualquer modo, como seria extrair memórias de mente infinita? Vem daí que o esquecimento estaria sempre fazendo-o sofrer, porque isso significaria não lembrar nomes, acidentes geográficos, prazeres antigos, as pessoas com as quais viveu.

                            Enfim, quer me parecer que ser imortal é mais um castigo que uma benção. Em todo caso é possível fazer muitos exercícios numa série, colocando essas questões para o povo e as elites. Muitas questões densas sob a perspectiva do que parece ser um desejo de quase todos.

                            Vitória, sábado, 14 de dezembro de 2002.

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