Números e Zero
Em
seu livro, Filosofia da Matemática, 2ª. Edição, Rio de Janeiro, Zahar,
1976 (original de 1964 nos EUA), p. 79, Stephen F. Barker diz, coloridos meus:
“os números 0, 1, 2, 3, etc., constituirão a nossa espécie fundamental de
números; são chamados números naturais. Infelizmente a expressão é um pouco
ambígua, pois alguns autores incluem o zero entre os naturais, enquanto outros
não o fazem – mas não nos preocupemos com isso”.
E na página 80: “Os axiomas de Peano, postos em palavras, são estes: 1. Zero é um número natural. 2. O sucessor imediato
de qualquer número natural é também um número natural. 3. Números naturais
distintos nunca têm o mesmo sucessor imediato. 4. Zero não é o sucessor imediato
de qualquer número natural. 5. Se algo vale para zero e, valendo para um dado
número, também vale para o seu sucessor imediato, valerá, ainda, para todos os
números naturais”.
Preocupemo-nos,
sim. Já ataquei a questão do zero antes. Agoraqui vamos abordar de novo, mas
tentando adiantar algo mais.
Em
primeiro lugar, o zero está na condição de MARCADOR POSICIONAL ou NOTACIOANAL,
de notação, significando base. Por exemplo, 1, 2 ..., 9, e então acrescentamos
0 a 1 para formar o número seguinte, 10, que é a base, base 10, contando-se de
10 em 10. Poderíamos ter infinitos números: 1 ...,9, Љ, Њ Ћ, Ќ, Ў, Џ, Г, Ф, Ц, Й, Л, Ф, Щ, Ю, б, ф, ђ, †, ‡, €, ₤,
Ω, E, [, ], etc, para indicar todos os
seguintes, mas precisaríamos de uma memória infinita, além do que ficaria
difícil fazer contas. Então 4 x 5 =Л = 2xЉ = 2x10 = 20. Não seria muito
prático. Que seja base, veja, constata-se em 0, 1, 10 = 2. Acrescentou o zero
denota-se a base. 0, 1, 2, 3, 10 = 4, base quatro. Por aí ele não é número.
Números
são operadores, somadores, e o zero não opera, não soma, enquanto base, coisa
nenhuma. Como notador posicional ele não é número.
Agora,
na posição de VAGA, de não-presença, ele é ausência, e aí não pode mesmo ser
número. “Aqui nada existe” não é equivalente a “existe aqui o AQUI NADA EXISTE.
Aí ele é MARCADOR DE AUSÊNCIA.
Como
elemento neutro da soma ele é indicador de não-existência, por
definição, de elemento NADA, neutro, como em A + 0 = A. O um, elemento
neutro da multiplicação, este tem significado. A.1 = 1. Os axiomas de
Peano estão errados desde a origem, porque: 1) o zero não é número, e 2) ele
não é natural. Na Natureza estão as coisas reais, isto é, concretas, não
abstratas, que podem ser pegas, apalpadas, manuseadas, que oferecem
resistência. O zero é mera indicação de não existência, que é a abstração da
ausência de todos os objetos. O um é UMA COISA, numeralidade ou indicabilidade
numérica. O zero não indica nenhuma presença.
Não há nenhum zero na Natureza, embora nós
possamos ver todos os UM’s, a todo instante. O UM é a base da contagem. Não
admira mesmo nada que o zero introduza confusões lingüísticas, como a divisão
de 0/n = ∞.
Claro, o vazio dividido
por qualquer quantidade gera paradoxos: que número, multiplicado por “n”, dá
zero? Desde o princípio pergunta malposta, contendo em si os germes do colapso
mental. Portanto, os axiomas de Peano deveriam começar por: 1. O um é número
natural. Começando pela existência e não pela não-existência, pelo real e
não pelo virtual, pois se trata de coisas contáveis.
Se
segue que toda a Matemática deve ser reconstruída, para acomodar essa nova
compreensão. E com a ausência do zero.
Vitória,
quarta-feira, 16 de outubro de 2002.
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