domingo, 1 de janeiro de 2017


Nacionalidade e P&D

 

                            Notícias soltas nos jornais são significativas também, quando temos um pano de fundo para significá-las, para conectá-las aos demais elementos de vida, dando coerência interpretativa.

                            Por exemplo, noticiou-se que o número médio de patentes é de 15 por milhão no planeta de hoje, enquanto o do Brasil é de 0,6 por milhão, 90/1 desfavoravelmente ao nosso país, existindo países que chegam e ultrapassam a 300 por milhão, na proporção de 500/1 contra nós. Isso nos faz persistentes compradores de patentes, quer dizer, de inteligências alheias, às quais pagamos direitos de autoria.

                            Recentemente cortaram as verbas do INPI, Instituto Nacional de Patentes Industriais, pelo quê retiraram o pequeno escritório que estava no ES, aproveitando sala junto ao INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia); mas não desativaram o INMETRO e outras agências, pelo quê entendo que medir é mais importante que inventar, para esta civilização de fundo português.

                            Se o Brasil dobrar a produção de patentes por milhão de habitantes A CADA ANO, na base de 90/1 ainda demorará quase sete anos para chegar à média, o que exigiria um esforço monstruoso de todos os brasileiros, pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados e nação). Em relação ao mundo, na relação de 500/1 quase nove anos. Com ritmo de crescimento muito mais razoável de 10 % ao ano, respectivamente 47 e 65 anos. Se não começarmos logo estaremos perdidos.

                            Se as patentes, modelos de utilidade, marcas, direitos autorais, desenhos industriais, programas e outros registros constituem no plano do desenvolvimento o índice preferencial de renovação dos conjuntos, evidentemente o Brasil é renovado DE FORA PARA DENTRO, é totalmente, na proporção média de 90/1, dependente mais que independente. Perguntando de outra forma: se fosse trancada a fonte externa, quando tempo resistiríamos até sucumbir na barbárie?

                            As nacionalidades que não tem pesquisas teóricas e desenvolvimentos práticos são, assim, dependentes mentalmente do exterior, destinadas a seguir modas, a nunca expressar seu autêntico modo de ser. Em termos de conhecimentos altos e baixos ficam sempre defasadas, precisando ser atualizadas de fora. Que gênero de respeito podem ter, nessas condições?

                            Desse jeito o Brasil, o ES e Vitória copiam o exterior, vivendo como papagaios das mentes alheias, vivendo de suas lembranças, de suas emoções, de suas verdades, de suas expectativas em relação ao futuro, de sua geo-história, de suas crenças religiosas, de tudo que vem de fora, técnica e ciência, ideologia e filosofia, religião e teologia, arte e magia, para não falar de matemática. É nisso, principalmente, que somos terceiro mundo.

                            Vitória, sábado, 12 de outubro de 2002.

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