sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


Mudança Diferencial

 

                            Trotski disse de passagem num de seus livros que, como resumi, a mudança dos conjuntos é diferencial, quer dizer, sejam pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) ou ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundos) sempre podemos contar que eles estejam mudando em ritmos diferentes.

                            Não haver dois conjuntos que mudam igualmente é trivial, todos vemos isso; mas não raciocinamos. Na Psicologia (figuras ou psicanálises; objetivos ou psico-sínteses; produções ou economias; organizações ou sociologias; espaçotempos ou geo-histórias) tudo muda diferencialmente. Vejamos as organizações: se alguma teoria sociológica não leva em conta essa mudança diferencial, está por princípio errada. Não pode prover prateoria apenas para o estático, o absoluto, as formas, que nós vemos mudar o tempo todo; deve fazê-lo também para o dinâmico, o relativo, o conceitual, os conteúdos.

 As organizações estão predando o meio e sendo predadas o tempo todo, trocando info-controle com o meio, e o estão fazendo a ritmos ou velocidades ou taxas diferentes. Quando nós olhamos a contabilidade de uma empresa, estamos vendo seus índices (fraudados ou não, como se viu acontecer nos EUA recentemente, 2001/2002) de mutação, comparados com os do ano anterior. Como existem verdade e mentira como par polar oposto/complementar no Dicionário, a contabilidade empresarial comporta ou pode comportar tanto uma quanta a outra. Se tivéssemos idealmente capacidade de comparar as árvores contabilísticas de troca de IC de muitas ou todas as empresas, saberíamos seus ritmos de mutação e com isso teríamos idéia de quais irão ou não prosperar, porque, FATALMENTE, umas irão subir e outras descer. A mudança diferencial garante e consiste nisso.

                           Todas as empresas irão trocar de lugar. TODAS. Aliás, todos os conjuntos. A VELOCIDADE DE MUTAÇÃO, que poderia ser medida, diria da capacidade de renovação de uma coletividade produtivorganizativa. Aqui, como em tudo, serve a Curva de Gauss. Umas mutarão extremamente rápido, outras extremamente lento e a grande maioria estará no centro.

                            Como os galhos dos conjuntos entrarão em contato uns com os outros, interferindo mutuamente entre si, de modo a retardar ou acelerar o ritmo de mutação? Que propriedades devem ter tais ramos para poderem interagir, trocar info-controle? Como se dão essas trocas e qual é o seu papel no estabelecimento da cadência de troca? Quais os ramos de taxa mais alta, mais baixa, média para menor, média para maior e média mesmo?

                            A mudança diferencial nos diz que as propagandas que dizem que há total controle de qualidade e que os objetos produzidos são iguais carecem de veracidade, pois os objetos são na origem diferentes, como já mostrei, e estarão mudando diferencialmente logo que saírem da fábrica, assim como gêmeos idênticos, postos no mesmo ou em ambientes distintos.

                            Enfim, não adianta nada colocar os ovos todos no mesmo cesto, ou apostar sempre no mesmo cavalo, porque não sabemos como, internamente, eles estão mudando diferencialmente. E assim é com institutos de pesquisa, com universidades, com departamentos governamentais, com tudo mesmo. No mínimo isso nos diz para diversificar os investimentos, procurando colocar um pouco nos extremamente rápidos (investimento de risco), um pouco nos extremamente lentos (que são extremamente seguros, as chamadas commodities ou comodidades) e muito na média, que não rende muito, mas também não dá grandes sustos.

                            Vê-se que basta raciocinar um pouco para poder ganhar muito conhecimento com a assertiva de Trotski.

                            Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

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