Luzes e Sombras
Na
Rede Cognata luz = MAL, o que é em princípio incompreensível. O que isso
poderia significar? Em todo caso, no modelo a soma zero, 50/50, leva a que
esperemos metade de luz e metade de não-luz, que tomamos como sendo sombra, mas
que é realmente ausência de luz.
Entrementes,
na arquiengenharia e no urbanismo, para não falar das tecnartes todas, a luz é
sobrelevada, enquanto as sombras são malvistas. O resultado é que há um excesso
de iluminação em tudo e em toda parte, ao passo que a ausência dela é tida como
obscuridade, no sentido psicológico. A luz parece fazer as coisas puras e
sempre que há necessidade de mostrar limpeza, higiene, sobriedade, lá estão as
luzes, excessivas luzes. Não há espaço para meditação, não há silêncio. Isso parece
provir daqueles tempos remotos, quando vivíamos na escuridão, nas matas ou nas
cavernas, com medo de tudo, apavorados dentro do negrume. De modo que mal
chegamos à civilização o contrário da noite é que passou a ser apreciado até
obsessivamente.
Prezamos
demais a luz, o movimento, todas as coisas de que éramos privados na infância
da espécie. Acontece que não estamos mais naqueles tempos dolorosos e
ameaçadores, nada ameaça, fora outros seres humanos. Praças com meia-luz, na
penumbra, poderiam ser construídas, com luzes baixas e fracas, com luzes
focadas em certos pontos, com locais para apreciação da calma, para ponderarmos
sobre o exterior e nosso interior.
Creio
que precisamos de uma nova arquiengenharia, de um novo urbanismo, de novas
tecnartes que primem mesmo decididamente pelo equilíbrio entre luz e não-luz.
Vitória,
domingo, 10 de novembro de 2002.
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