quinta-feira, 5 de janeiro de 2017


Luzes e Sombras

 

                            Na Rede Cognata luz = MAL, o que é em princípio incompreensível. O que isso poderia significar? Em todo caso, no modelo a soma zero, 50/50, leva a que esperemos metade de luz e metade de não-luz, que tomamos como sendo sombra, mas que é realmente ausência de luz.

                            Entrementes, na arquiengenharia e no urbanismo, para não falar das tecnartes todas, a luz é sobrelevada, enquanto as sombras são malvistas. O resultado é que há um excesso de iluminação em tudo e em toda parte, ao passo que a ausência dela é tida como obscuridade, no sentido psicológico. A luz parece fazer as coisas puras e sempre que há necessidade de mostrar limpeza, higiene, sobriedade, lá estão as luzes, excessivas luzes. Não há espaço para meditação, não há silêncio. Isso parece provir daqueles tempos remotos, quando vivíamos na escuridão, nas matas ou nas cavernas, com medo de tudo, apavorados dentro do negrume. De modo que mal chegamos à civilização o contrário da noite é que passou a ser apreciado até obsessivamente.

                            Prezamos demais a luz, o movimento, todas as coisas de que éramos privados na infância da espécie. Acontece que não estamos mais naqueles tempos dolorosos e ameaçadores, nada ameaça, fora outros seres humanos. Praças com meia-luz, na penumbra, poderiam ser construídas, com luzes baixas e fracas, com luzes focadas em certos pontos, com locais para apreciação da calma, para ponderarmos sobre o exterior e nosso interior.

                            Creio que precisamos de uma nova arquiengenharia, de um novo urbanismo, de novas tecnartes que primem mesmo decididamente pelo equilíbrio entre luz e não-luz.

                            Vitória, domingo, 10 de novembro de 2002.

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