Integração Geológica
Sentado
na ante-sala do reitor da UFES me dei conta de que aquilo que denominei
geo-esculturas, as esculturas geológicas proporcionadas pela Natureza na Terra,
como montanhas e vales, rios, lagoas, istmos, e tudo que chamados de “acidentes”
geográficos, agora transformados irremediavelmente pela histórica do ser humano,
são constantemente agredidas pela nossa espécie: taludes cortados em morros,
montanhas transformadas em mármore, granito ou brita, rios desviados e o resto
todo.
Como
construir sem ferir a Terra?
Como
fazer omeletes sem quebrar os ovos?
As
perguntas não são as mesmas, você sabe, e tomar uma como analogia da outra
seria errado, pois omelete é equivalente de quebrar ovos. Não prestar atenção
às definições gera paradoxos.
De
onde vem nossa agressividade? Os chimpanzés, que estão mais próximos de nós e
aos quais nos assemelhamos em 97 % ou mais do ADRN, são agressivos, ao passo
que os gorilas, dos quais pensávamos o contrário, são mansos. Tivéssemos
descendido dos gorilas e seríamos talvez uma espécie mais amorosa com o nosso
útero terrestre, a chamada Mãe Terra.
Podemos
perfeitamente construir sem ferir excessivamente e até sem ferir em nada o
planeta. Tivéssemos nós, desde o princípio, mirado-nos na brandura (de que os
iluminados falaram insistentemente), nossas construções seriam curvas, imitando
as curvas do planeta, em total integração ambiental com as disposições
geológicas, nos acomodando parcialmente às formas apresentadas pela Natureza.
Nossos prédios não seriam somente retos, nossas estradas não permitiriam
velocidades tão extremas, nós saberíamos olhar demoradamente para as geo e as
bioesculturas. Poderíamos ter essa integração geológica de nossas cidades às
curvas ambientais como coadjuvante da melhor harmonia psicológica de nossas
almas, agora duras e tensas de retidão excessiva, que magoa, que fere, que
afunda na carne de nossa Mãe os punhais de nossas construções.
Vitória,
segunda-feira, 11 de novembro de 2002.
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