quinta-feira, 5 de janeiro de 2017


Integração Geológica

 

                            Sentado na ante-sala do reitor da UFES me dei conta de que aquilo que denominei geo-esculturas, as esculturas geológicas proporcionadas pela Natureza na Terra, como montanhas e vales, rios, lagoas, istmos, e tudo que chamados de “acidentes” geográficos, agora transformados irremediavelmente pela histórica do ser humano, são constantemente agredidas pela nossa espécie: taludes cortados em morros, montanhas transformadas em mármore, granito ou brita, rios desviados e o resto todo.

                            Como construir sem ferir a Terra?

                            Como fazer omeletes sem quebrar os ovos?

                            As perguntas não são as mesmas, você sabe, e tomar uma como analogia da outra seria errado, pois omelete é equivalente de quebrar ovos. Não prestar atenção às definições gera paradoxos.

                            De onde vem nossa agressividade? Os chimpanzés, que estão mais próximos de nós e aos quais nos assemelhamos em 97 % ou mais do ADRN, são agressivos, ao passo que os gorilas, dos quais pensávamos o contrário, são mansos. Tivéssemos descendido dos gorilas e seríamos talvez uma espécie mais amorosa com o nosso útero terrestre, a chamada Mãe Terra.

                            Podemos perfeitamente construir sem ferir excessivamente e até sem ferir em nada o planeta. Tivéssemos nós, desde o princípio, mirado-nos na brandura (de que os iluminados falaram insistentemente), nossas construções seriam curvas, imitando as curvas do planeta, em total integração ambiental com as disposições geológicas, nos acomodando parcialmente às formas apresentadas pela Natureza. Nossos prédios não seriam somente retos, nossas estradas não permitiriam velocidades tão extremas, nós saberíamos olhar demoradamente para as geo e as bioesculturas. Poderíamos ter essa integração geológica de nossas cidades às curvas ambientais como coadjuvante da melhor harmonia psicológica de nossas almas, agora duras e tensas de retidão excessiva, que magoa, que fere, que afunda na carne de nossa Mãe os punhais de nossas construções.

                            Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

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