Famosos de Ocasião
A
gente vê na literatura gente que era famosa em determinada ocasião, até
famosíssima, estando em superevidência durante décadas e depois sendo
quase totalmente esquecida no futuro. Ao passo que outras, em suas épocas muito
apagadas se sobressaem e tomam todo o cenário. Alguns se surpreendem que Cristo
não fosse muito citado na literatura romana, mas como o seria, sendo inimigo do
Estado? Do mesmo modo Tiradentes, que está muito mais próximo de nós, tendo o
governo central português sucumbido pouco depois. Se ele não estivesse muito
mais próximo e os historiadores não tivessem estudado com afinco, pouco se
saberia dele. Se, por outro lado, o poder português tivesse persistido como
império não se sabe mais quantos séculos, os êmulos fariam de tudo para apagar
o nome de Joaquim José da Silva Xavier.
E
os que somem?
Seria
preciso fazer um levantamento completo, extenuante mesmo, particularizador, esmiuçador,
para estudarmos o fenômeno atentamente, já que é intrigante saber porque a socioeconomia
da ocasião precisava sobrelevar tais criaturas até patamares tão altos, depois
vistos como tão rasteiros. Que valores tinham, que ilusões, que idéias fixas?
Às
vezes, olhando a Revista CARAS (quem vê Caras não vê corações), que publica a
vida dos famosos, suas casas, seus carros, suas viagens, eu fico pensando na
quantidade de gente que desaparecerá irremissível, imperdoável, fatalmente, sem
deixar a menor sombra. Quanto orgulho, meu Deus! Por outro lado, há certa
justiça na publicação, já que será a única, com posterior irrelevância total ou
quase total.
É
engraçado como tudo é apagado, varrido dos cenários da geo-história nos vários
níveis, nas tecnartes, nas tecnociências, nas profissões – é um funil, é uma
pirâmide, passando aos patamares superiores cada vez menos gente, até que na
ponta podemos contar uns 100 mil, como avaliei. De 100 bilhões que já nasceram
apenas 100 mil, um em cada milhão. Chega a ser assustador.
Vitória, domingo, 08 de dezembro de 2002.
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