quinta-feira, 12 de janeiro de 2017


Famosos de Ocasião

 

                            A gente vê na literatura gente que era famosa em determinada ocasião, até famosíssima, estando em superevidência durante décadas e depois sendo quase totalmente esquecida no futuro. Ao passo que outras, em suas épocas muito apagadas se sobressaem e tomam todo o cenário. Alguns se surpreendem que Cristo não fosse muito citado na literatura romana, mas como o seria, sendo inimigo do Estado? Do mesmo modo Tiradentes, que está muito mais próximo de nós, tendo o governo central português sucumbido pouco depois. Se ele não estivesse muito mais próximo e os historiadores não tivessem estudado com afinco, pouco se saberia dele. Se, por outro lado, o poder português tivesse persistido como império não se sabe mais quantos séculos, os êmulos fariam de tudo para apagar o nome de Joaquim José da Silva Xavier.

                            E os que somem?

                           Seria preciso fazer um levantamento completo, extenuante mesmo, particularizador, esmiuçador, para estudarmos o fenômeno atentamente, já que é intrigante saber porque a socioeconomia da ocasião precisava sobrelevar tais criaturas até patamares tão altos, depois vistos como tão rasteiros. Que valores tinham, que ilusões, que idéias fixas?

                            Às vezes, olhando a Revista CARAS (quem vê Caras não vê corações), que publica a vida dos famosos, suas casas, seus carros, suas viagens, eu fico pensando na quantidade de gente que desaparecerá irremissível, imperdoável, fatalmente, sem deixar a menor sombra. Quanto orgulho, meu Deus! Por outro lado, há certa justiça na publicação, já que será a única, com posterior irrelevância total ou quase total.

                            É engraçado como tudo é apagado, varrido dos cenários da geo-história nos vários níveis, nas tecnartes, nas tecnociências, nas profissões – é um funil, é uma pirâmide, passando aos patamares superiores cada vez menos gente, até que na ponta podemos contar uns 100 mil, como avaliei. De 100 bilhões que já nasceram apenas 100 mil, um em cada milhão. Chega a ser assustador.
                            Vitória, domingo, 08 de dezembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário