Eternidade
Muitas
vezes ouvimos gente pedindo para viver para sempre, mas quando assistimos a
morte de um ente querido só podemos pensar que alguém assim deve ser um
cretino. Quem vive mais sofre mais perdas. Como não há realmente jeito mesmo
com a Via Óctupla de Buda de deixar de gostar totalmente (nem faria o mínimo
sentido, sobre essa ausência ser uma tortura ainda maior), o apego fatalmente
vai produzir dilacerante dor acumulada.
Fora
Deus, que é o único que de fato pode ser eterno, é bom que a ninguém caibam
tais dores. E Deus, com toda certeza, deve ter um modo de fazer sobreviver seus
gostos até a dissolução da memória, se é que Deus esquece de algo alguma vez.
Isso, com toda certeza está fora da nossa capacidade de raciocínio, escapa ao
nosso tirocínio.
Quanto
aos demais, até mesmo gente muito idosa, e MUITO que nem tivesse sentido aos
olhos humanos, haveria de achar essa dádiva um peso insuportável ao pensar que
as dores de desaparecimento de agora seriam renovadas fatalmente em algum
futuro. Quem poderia gostar de uma existência assim? Se nós suportamos a perda
de pais e mães, de amigos e de outros, é porque temos a certeza de que
morreremos também, e há a remota chance anunciada pelos religiosos de uma outra
vida, mais a vaguíssima esperança que seja de voltarmos a encontrá-los em
consciência. De outro modo, como suportar tal pressão? Acho que seria demais,
talvez castigo em lugar de benefício. Vida eterna, tá, mas até as mansões de
Hollywood podem ser chatas depois de um tempo. Até a vida de Bill Gates pode
ser enjoada, década após década fazendo crescer a Microsoft.
Vitória,
segunda-feira, 09 de dezembro de 2002.
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