sábado, 7 de janeiro de 2017


Devoção Pública

 

                            Houve um tempo em que víamos devotados homens públicos servindo aos governos (municipais/urbanos, estaduais, nacionais e mundial) por salários até pequenos e queríamos seguir a mesma trilha. De algumas décadas para cá isso tudo mudou e só vemos agora quase unicamente mercenários, gente que entra nos governos (principalmente nos executivos) “para se dar bem”, para predar e sair rico, seja através do caixa dois, seja através do acúmulo de conhecimento privilegiado a ser usado depois nas empresas. Ou há os que somente querem os altos salários de marajá.

                            Onde foi que erramos?

                            É claro que tudo é ciclo, estamos “para baixo” agora como em algum ponto inflectiremos e estaremos “para cima”    rumo ao melhor dos mundos. Mas essa constatação não nos impede de raciocinar que as elites governamentais, quando não o povo governamental, os trabalhadores de baixo, não tem mais missão, elas não se engajam PORQUE não há nada de desafiador, não há nada de gigantesco, ou ninguém consegue ver o que há de desenvolvimento importantíssimo no caminho do povelite/nação, por exemplo, grandes saneamentos, construção de milhões de casas populares de grande qualidade, desassoreamento dos rios, educação em níveis mais elevados, redução máxima dos desperdícios, reconstrução da Natureza atacada e destruída ou ameaçada e outras grandes tarefas.

                            Em algum lugar do caminho as grandes tarefas aparentemente desapareceram e as pessoas ficaram à mercê de seus pequenos desejos egoístas, sem nada de fora que as chamasse para incumbências maiores que elas e suas vontades de isolamento pomposo, alienado da coletividade que deveriam representar. Que vácuo tremendo é este! Que declínio tremendo em relação àqueles sonhos, aquelas pradarias douradas floridas do melhor pensamento e do melhor sentimento governamental de outrora. Evidentemente haverá um refluxo e novo espaçotempo iluminado e alegre surgirá oportunamente. No entanto, estamos no buraco da curva, e é isso que dói, ver tantos aproveitadores e inescrupulosos vendendo os governos. Só o rastreamento deles nas últimas décadas já renderia inúmeros livros.

                            Vitória, sábado, 23 de novembro de 2002.

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