quinta-feira, 19 de janeiro de 2017


Deus, Quando se Aborrece...

 

                            No livro O Sonho de Descartes (O Mundo de Acordo com a Matemática), Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988 (original de 1986, creio que americano), os autores, Philip J. Davies e Reuben Hersh dizem no artigo A Hipótese Whorfiana: os Fins e os Meios das Linguagens Computacionais, p. 177: “’Em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar’. Assim está escrito em Gênesis 11:1. Os intérpretes da Bíblia dizem que a geração que sucedeu ao Dilúvio, temendo que o mundo fosse novamente destruído, decidiu construir uma torre cujo topo fosse tão alto que o povo pudesse ali sobreviver, acima da crista de qualquer inundação futura. Esse projeto não agradou ao Senhor”, coloridos meus.

                            Tá, não agradaria a mim também, nem a você, a desconfiança. Se foi dada a palavra, e não uma palavra qualquer, mas A Palavra, porquê desconfiar?

                            Parece que quando Deus se aborrece a coisa fica feia mesmo.

                            Da primeira vez veio o Dilúvio e arrasou a Terra inteira, só sobrou, diz a lenda, uma família e um par de cada espécie animal (como guardar as cerca de, segundo avaliações, 30 milhões de espécies, eu não sei, mas está lá na Bíblia; imagine os problemas de logística, de alimentação, de acompanhamento veterinário, etc. – aliás, ninguém raciocinou, nem a título de brincadeira, sobre os problemas de estocagem de alimentos nessa quantidade).

                            Depois foi a Torre de Babel, Deus confundiu logo a Língua Única, universal, tornando-a essa multiplicidade que aí está, oito mil línguas e dialetos. Que contratempos agoniantes de info-controle só com essa pincelada!

                            A seguir foi preciso mandar o próprio Filho, Jesus Cristo, para consertar os problemas do mundo e criar um Novo Testamento, uma Nova Herança para os filhos (rabugentos e implicantes) de Deus. Veja que veio não o primogênito, pois parece que Deus não faz clones de si mesmo, mas o Filho Unigênito, uma réplica total de Deus, para “pagar os pecados” da humanidade – ou sabe-se lá que calamidades viriam.

                            Por um lado, vemos que quando Deus se aborrece é de arrasar, mesmo! É porradaria da grossa, da pesada, mesmo. Entrementes, podemos ver que Deus demora a se aborrecer, para tudo que a humanidade faz de criancices e canalhices. Parece que Deus é bastante tolerante, dum quietismo tantalizante. Não é assombroso?

                            Vitória, domingo, 29 de dezembro de 2002.

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