quinta-feira, 12 de janeiro de 2017


Desaparecido

 

                            Num filme francês recentíssimo estrelado por Charlote Rampling, Sob a Areia, creio, um homem e sua esposa vão a uma casa num balneário, daí a certa praia isolada de lá e, enquanto ela dorme, ele entra no mar e se afoga. Trivial, inconsistente, desnecessário, quando poderia ter sido um grande filme.

                            Veja só, no momento em que ela se deita de bruços na toalha e ele sai, encontra alguém, certa moça, acontece alguma coisa (não quero desenvolver o tema), ele vai parar em outra cidade e país. Neste instante a tela do cinema se abriria em duas faixas, separando-os. Ela começa a busca, com o auxílio da polícia, ele vai viver em outro lugar, o que as duas faixas, para não cansar, mostram em retratos distanciados vários anos, mostrando as duas vidas separadas. Lá pelas tantas, um outro acontecimento os reúne, eles são agora estranhos, quando antes privavam uma vida conjunta cheia de confidências.

                            Enfim, há sempre nos filmes uma chance que poderia levá-los a grandes eventos, a chamar a atenção de todos e cada um. Poucos filmes se tornam surpreendentes. Às vezes até em filmes C ou D vi grandes oportunidades desperdiçadas. E é isso que dói: pela falta de um triscar, de uma faísca, de um súbito relampejar de gênio desapareceu esse grande ensejo de divertimento. É isso que desconsola. Desapareceu, está desaparecido para sempre.

                           Vitória, segunda-feira, 09 de dezembro de 2002.

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