Criando Novas
Pessoambientes
No livro Visões do Futuro (como a ciência
revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 259, Michio Kaku
diz: “Com a revolução do DNA recombinante, no entanto, temos de reanalisar
muitos desses antigos mitos de uma perspectiva inteiramente diferente. O antigo
sonho de ser capaz de controlar a vida está se tornando aos poucos uma
realidade por meio da revolução biomolecular. Mas isso suscita a questão: quais
os limites científicos da criação de novas formas de vida? A ciência poderá um
dia criar novas raças de animais, como as quimeras, ou mesmo uma nova raça de
seres humanos, ‘meta-humanos’, ou ‘homo superior’, com capacidades
super-humanas”.
Na realidade tomando
as pessoas
(indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes
(municípios/cidades, estados, nações e mundo), já criamos o super-humano e o
homo superior. Toda a nossa cultura/civilização/sociedade é um imenso
corpomente superior. Entrementes, apenas no sentido de ampliar o indivíduo,
também o fizemos, desde quando os óculos que uso não nasceram comigo, nem os
remédios, nem as roupas.
Kaku também diz,
página 286: “Mas o principal temor é que, uma vez que as comportas se abram
plantas inteiramente novas, nunca vistas antes na Terra, possam escapar para a
natureza agreste, onde podem vir a desalojar plantas nativas e tomar conta de
ecossistemas inteiros, com resultados imprevisíveis. ‘Se as plantas forem
cultivadas fora de casa e os novos genes penetrarem no estoque genético
agreste, isso poderá ter um efeito potencialmente desestabilizador sobre o
sistema ecológico’, diz Jeremy Rifkin da Foundation for Economic Trends, um dos
mais destacados críticos da revolução biotecnológica”.
O que eles chamam de
“natureza agreste” é a Natureza Um (N.1) do modelo, biológica/p.2, por
comparação com esta mais avançada em que estamos, a Natureza Dois (N.2),
psicológica/p.3, composta de pessoambientes, pessoas-em-ambientes. Ora, uma
pessoa nunca está sozinha, ela é composta com seu ambiente. Não há jeito de uma
empresa estar solta no espaçotempo, ela está em algum daqueles quatro
ambientes, por seu nível de produçãorganização ou significação. Assim sendo, o
conjunto de organismos ou corpomentes na Terra forma uma Rede N.1 e uma Rede
N.2 que têm enormes DENSIDADES DE MALHA (de que falarei, tendo tempo). Na
medida em que um novo VETOR BIOLÓGICO (ou, mais à frente, psicológico) for
introduzido, ele não modificará apenas um outro vetor próximo – como as coisas
se sucedem e há trânsito não fechado, não-circular, entre as espécies, ele
modificará TODOS OS CORPOMENTES, num tempo mais ou menos largo. Quando VÁRIOS
vetores forem introduzidos haverá exponencialização e a REDE VITAL poderá
oscilar tremendamente, eventualmente desfazendo-se. Toda a rede será
reprogramada, havendo ou não lugar para o ser humano nela. Ela, por si mesma,
continuará existindo, a Vida é muito resistente. E nós?
Criar novos seres é
criar novos ambientes para eles. Até ressuscitar seres (vírus, bactérias,
fungos) antigos corresponde a trazer ao cenário seus antigos ambientes. Criar o
corpomente-quimera é criar conjuntamente o ambiente-quimera, porque todo ser
depende de um ambiente para viver (e se expandir). Tal pessoambiente-quimera
competirá fatalmente com os outros P/A, combatendo-os e inclusive destronando-os
de sua dominância, como a abelha africana, mais agressiva, fez com a abelha
européia, mais mansa.
Acontece que uma
planta mais agressiva que as nossas trará herbívoros mais agressivos, e estes
carnívoros mais agressivos, no lugar dos que já controlamos. Então, essa coisa
de re-engenharia genética parece bonitinha quando não se pensa a fundo. Quando
fazemos isso, da soma zero desponta um lado tremendamente negativo.
Vitória, sábado, 21
de dezembro de 2002.
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