terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Criando Novas Pessoambientes

 

                            No livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 259, Michio Kaku diz: “Com a revolução do DNA recombinante, no entanto, temos de reanalisar muitos desses antigos mitos de uma perspectiva inteiramente diferente. O antigo sonho de ser capaz de controlar a vida está se tornando aos poucos uma realidade por meio da revolução biomolecular. Mas isso suscita a questão: quais os limites científicos da criação de novas formas de vida? A ciência poderá um dia criar novas raças de animais, como as quimeras, ou mesmo uma nova raça de seres humanos, ‘meta-humanos’, ou ‘homo superior’, com capacidades super-humanas”.

                            Na realidade tomando as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo), já criamos o super-humano e o homo superior. Toda a nossa cultura/civilização/sociedade é um imenso corpomente superior. Entrementes, apenas no sentido de ampliar o indivíduo, também o fizemos, desde quando os óculos que uso não nasceram comigo, nem os remédios, nem as roupas.

                            Kaku também diz, página 286: “Mas o principal temor é que, uma vez que as comportas se abram plantas inteiramente novas, nunca vistas antes na Terra, possam escapar para a natureza agreste, onde podem vir a desalojar plantas nativas e tomar conta de ecossistemas inteiros, com resultados imprevisíveis. ‘Se as plantas forem cultivadas fora de casa e os novos genes penetrarem no estoque genético agreste, isso poderá ter um efeito potencialmente desestabilizador sobre o sistema ecológico’, diz Jeremy Rifkin da Foundation for Economic Trends, um dos mais destacados críticos da revolução biotecnológica”.

                            O que eles chamam de “natureza agreste” é a Natureza Um (N.1) do modelo, biológica/p.2, por comparação com esta mais avançada em que estamos, a Natureza Dois (N.2), psicológica/p.3, composta de pessoambientes, pessoas-em-ambientes. Ora, uma pessoa nunca está sozinha, ela é composta com seu ambiente. Não há jeito de uma empresa estar solta no espaçotempo, ela está em algum daqueles quatro ambientes, por seu nível de produçãorganização ou significação. Assim sendo, o conjunto de organismos ou corpomentes na Terra forma uma Rede N.1 e uma Rede N.2 que têm enormes DENSIDADES DE MALHA (de que falarei, tendo tempo). Na medida em que um novo VETOR BIOLÓGICO (ou, mais à frente, psicológico) for introduzido, ele não modificará apenas um outro vetor próximo – como as coisas se sucedem e há trânsito não fechado, não-circular, entre as espécies, ele modificará TODOS OS CORPOMENTES, num tempo mais ou menos largo. Quando VÁRIOS vetores forem introduzidos haverá exponencialização e a REDE VITAL poderá oscilar tremendamente, eventualmente desfazendo-se. Toda a rede será reprogramada, havendo ou não lugar para o ser humano nela. Ela, por si mesma, continuará existindo, a Vida é muito resistente. E nós?

                            Criar novos seres é criar novos ambientes para eles. Até ressuscitar seres (vírus, bactérias, fungos) antigos corresponde a trazer ao cenário seus antigos ambientes. Criar o corpomente-quimera é criar conjuntamente o ambiente-quimera, porque todo ser depende de um ambiente para viver (e se expandir). Tal pessoambiente-quimera competirá fatalmente com os outros P/A, combatendo-os e inclusive destronando-os de sua dominância, como a abelha africana, mais agressiva, fez com a abelha européia, mais mansa.

                            Acontece que uma planta mais agressiva que as nossas trará herbívoros mais agressivos, e estes carnívoros mais agressivos, no lugar dos que já controlamos. Então, essa coisa de re-engenharia genética parece bonitinha quando não se pensa a fundo. Quando fazemos isso, da soma zero desponta um lado tremendamente negativo.

                            Vitória, sábado, 21 de dezembro de 2002.

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