Cientificamente
Analfabeto
Num de seus textos o
há alguns anos falecido astrofísico e divulgador científico americano Carl
Sagan falou dos que não são cientificamente alfabetizados. Outrora, antes do
modelo, eu teria ficado irritado com essas pessoas, porque me parecia que elas
se assentavam no mundo e não se davam ao trabalho de conhecer, bastando-se a si
próprias e desprezando o saber. Agora minha percepção é mais completa, creio.
Pois, veja, no
Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática) geral a Ciência é só um nono (1/9). Uma pessoa
cientificamente alfabetizada pode ser magicamente analfabeta. Olhe ainda que a
Ciência é composta de Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3,
Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6. A Dialógica se abre na Lógica
geral e na Dialética geral. Só a Física já é um mundo, separada (no modelo) em
sete teorias, quatro verdadeiras, duas montadoras e uma central. Uma pessoa
pode ser fisicamente alfabetizada e informaticamente analfabeta.
Por quê castigar os
“cientificamente analfabetos”? Qual a razão de a ignorância em Ciência ser tão
repudiada e as outras não?
Veja que podemos
estabelecer uma progressão: péssimo, muito ruim, ruim, médio, bom, muito bom,
excelente – sete níveis de conhecimento. Seja de 1 a 7, ou percentualmente de 1
a 100, ou ainda 20 = 1, 27 = 128 para cada um. Então,
como são nove conhecimentos diferentes, (27)9 = 9.1018,
para abarcar o Conhecimento TODO em nível de excelência. Ninguém conseguiria
chegar nem perto. Resumindo, somos todos ignorantes, estúpidos mesmos. O que há
é essa “douta ignorância” de que falavam os filósofos da Idade Média.
Se contarmos apenas
1 a 7, teremos 7 x 9 = 63.
De quaisquer
raciocínios que possamos ter se seguirá sempre que somos, todos e cada um,
ignorantes. Porque zombar dos “cientificamente analfabetos”, ou dos
“informacionalmente analfabetos”, ou de qualquer analfabetismo? Como não
zombamos mais dos anões, nem dos deficientes físicos e mentais, nem de tantas coisas
preconceituosas de antes, há também esse preconceito a vencer. Por quê seria
útil, em meio a tantas atividades e problemas da vida das pessoas (indivíduos,
famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e
mundo), ser cientificamente alfabetizado? Ninguém consegue sequer compreender
as urgências da vida e do trabalho, de sustentação da família e de si - quanto
mais penoso seria ser alfabetizado em qualquer dos modos do Conhecimento!
Isso é de alguma
urgência? É fundamental? Vale a pena as tensões que irá criar no meio? Vale os
conflitos dos pessoambientes, das políticadministrações, dos governempresas?
Não seria melhor um tratamento mais brando? Não fazer exigência forte nenhuma?
Imagine cada um dos nove modos de conhecer, cada um com seis níveis ou
tratamentos diferenciados, cada um dos quais com seis teorias, cada teoria com
seus laboratórios ou práticas associadas: quem teria condições de mesmo
minimamente abarcar sequer uma fração disso tudo?
Vemos que a
solicitação de Sagan e outros é descabida, querendo chamar atenção excessiva
para seu particular modo de conhecer.
As pessoas não podem
ser pressionadas assim. Aliás, se forem, caberá aos outros modos fazer
exigências também, quer dizer, os filósofos poderão exigir que todos sejam
“filosoficamente alfabetizados”. E do mesmo modo os religiosos – até os ateus
deveriam se submeter a alfabetização religiosa, porque isso poderia avançar por
pressão à condição de lei ou obrigatoriedade ou tolhimento da liberdade. Como
disse o TAO quem faz muitas leis é porque não sabe governar.
Você já imaginou o
cenário de guerra?
Vitória, domingo, 29
de dezembro de 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário