segunda-feira, 9 de janeiro de 2017


Ciência para Filósofos

 

                            Eu seu livro, Epistemologia (Trechos Escolhidos), Rio de Janeiro, Zahar, 1977 (sobre original de 1971), Gaston Bachelard (filósofo francês, 1884 a 1962, 78 anos entre datas) diz, p. 13: “O cientista era ‘um de nós’, no sentido de Conrad. Ele vivia em nossa realidade, manejava nossos objetos, educava-se com nosso fenômeno, achava a evidência na clareza de nossas intuições”, colorido meu.

                            Evidentemente a reclamação de Bachelard é pertinente e totalmente cabível, porque o cientista não foi distanciado, ele se distanciou ao pensar que possuía e possui e possuirá um conhecimento superior ao de todos os demais pesquisadores do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática); que ele nunca será alcançado, sendo todos os demais irrelevantes, quando não suspeitos ou boçais, além do quê a Matemática seria uma serva humilde da Ciência, em vez de ser, como é, língua comum e centro de tudo.

                            O resultado foi o temido pedestal, de que tantos foram apeados ou arriados no passado, alguns de forma bastante humilhante.

                            O Cientista geral deixou de ser “um de nós”, como viu esse Conrad (pode ser Joseph Conrad, aliás, Jòzef Teodor Konrad Korzeniowski, dito, escritor polonês radicado na Inglaterra, 1857 a 1924, 67 anos entre datas, 45 anos quando Bachelard estava com 18). Deixou mesmo, é um ser à parte, isolado por vontade própria, altivo, orgulhoso, soberbo até, que não precisa de mais ninguém, que se basta a si mesmo e à comunidade chamada científica internacional.

                            Pelo contrário, se os cientistas produzem frações, parcelas não-integradas do Conhecimento inteiro, devem integrá-las. Se não são capazes, devem se socorrer de outros, que são justamente os filósofos, integradores por natureza, os preparadores dos grandes cenários de campo.

                            Por esse motivo, seria extremamente útil que filósofos e cientistas se reunissem na interface para produzir não apenas conhecimento destinado ao público em geral, que sustenta as pesquisas & desenvolvimentos teóricos & práticos com os tributos, como para passá-los aos demais pesquisadores dos modos do Conhecimento, em especial aos filósofos e ideólogos, no que chamaríamos de DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA AOS FILÓSOFOS. O que os filósofos devem conhecer da P&D T&P científica/técnica que seja relevante a eles, isto é, contraída, de forma que vejam o todo onde outros nada enxergam? Esse PROCESSO DE REDUÇÃO não pode ser aquele reducionismo ridículo que tantas vezes aparece, um dar de ombros de desprezo para com os ignorantes. Deve ser, isso sim, algo de tremendamente responsável, uma atividade governempresarial políticadministrativa pessoambiental até pautada em Lei, de forma que essa FECUNDAÇÃO CRUZADA seja frutuosa para todos. Enfim, que seja uma obrigação, até quando os cientistas e técnicos, pelo costume, pela fixação ao longo prazo dos efeitos das leis, possam novamente tornar-se “um de nós”, compartilhadores por conta própria. Os cientistas e filósofos devem perguntar e responder. Não é preciso forçar, basta chamar os interessados, e sempre vai havê-los entre uns e outros, um grupo tarefa que queira compartilhar, que queira estabelecer uma disciplina-ponte restauradora do diálogo e da confiança mútua.
                            Vitória, segunda-feira, 02 de dezembro de 2002.  

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