Anti X
Naturalmente
há o Arquivo X, de tanto sucesso, a série da Fox que durou nove anos e
terminou de modo forçado, antinatural, e porisso mesmo decepcionante. Era
divertido, com as implausibilidades de sempre, a abordagem de temas absurdos ou
meramente tolos.
Para
começar colocar um X Files como divisão do FBI já teria de ser
escritório para o mais bobo dos agentes, uma propaganda para curar as acusações
de “ocultamento de cadáver”, um diversionismo que as chefias jamais mencionariam
sem rir à socapa, o que teria dado graça à série, mas ofendido os
telespectadores convictos da existência de Óvnis e similares, toda a
paranormalidade, real ou falsa.
Pelo
contrário, se os governos (um ou mais de um) soubessem de uma nave espacial,
com todo o info-controle superior necessariamente presente nela, por exemplo,
num Dicionárienciclopédico Galáctico sobre o Conhecimento (Magia/Arte
alien, Teologia/Religião alien, Filosofia/Ideologia alien, Ciência/Técnica
alien e Matemática alien), fariam de tudo para ocultá-la, defendendo-a até à
morte. Supus que (a partir do chamado Vaso de Warka, vá ler nas
posteridades) tivesse de fato havido uma nave espacial em 3,5 mil anos antes de
Cristo, na Suméria, onde é hoje o Iraque. Se alguém tivesse achado uma, teria
criado uma sociedade secreta, digamos, os “homens de preto”, a Maçonaria, ou
outra, para proteger o segredo eternamente, até tudo estar nivelado com aquele
conhecimento. Matariam por aqueles conhecimentos superiores.
Seria
o contrário do Arquivo X, um Anti X, de modo que na realidade a direção
superior colocaria agentes para ocultar, para levar a causas perdidas,
becos-sem-saída, confusões mentais, plantando notícias falsas na imprensa,
perseguindo e liquidando quem chegasse muito perto, etc. Faria todo sentido
mostrar POR DENTRO as conspirações, com várias pessoas chegando perto, sem
nunca tocar de fato os conhecimentos ocultos. E aí abriríamos espaçotempo para
a construção de 5,5 mil anos de geo-história humana, tocando todos os assuntos
de nossa espécie, mostrando a manipulação dos e pelos governos, o compromisso
de silêncio das elites detentoras do patrimônio. Isso ensejaria a “explicação”,
a pseudo-explicação de um monte de coisas, de modo bem verossímil, bem
plausível, bem aceitável. Com o aprimoramento da série detalhes sutis seriam
inseridos em quatro níveis de decifração, conforme os telespectadores, de modo
que ao final fosse sugerido que a própria criação da série se deveria a mais
uma trama de proteção.
Veja
só quanto espaço mais existe, nessa variação, feita do avesso! Infinitas
oportunidades de construção. Maçons, Iluminatti, Rosas-Cruzes, Clube de Roma,
Grupo Bildenberg, globalização, tudo poderia ser jogado no mesmo saco, com
cabimento de causa.
Pessoas
deparariam com certos detalhes, como acontece, fariam buscas e por trás agentes
iriam cuidadosamente disseminando pistas falsas (naturalmente ajudados por
aquele poder estranho). A própria migração geo-histórica dos livros e dos
objetos, um ou outro parecendo aqui e ali, já seria emocionante, e de alto
nível, atraindo muitos autores de peso, de grande profundidade de raciocínio,
para infindáveis exercícios de elaboração de vieses literários.
Isso,
sim, seria interessante.
Vitória,
sábado, 23 de novembro de 2002.
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