sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


Anti X

 

                            Naturalmente há o Arquivo X, de tanto sucesso, a série da Fox que durou nove anos e terminou de modo forçado, antinatural, e porisso mesmo decepcionante. Era divertido, com as implausibilidades de sempre, a abordagem de temas absurdos ou meramente tolos.

                            Para começar colocar um X Files como divisão do FBI já teria de ser escritório para o mais bobo dos agentes, uma propaganda para curar as acusações de “ocultamento de cadáver”, um diversionismo que as chefias jamais mencionariam sem rir à socapa, o que teria dado graça à série, mas ofendido os telespectadores convictos da existência de Óvnis e similares, toda a paranormalidade, real ou falsa.

                            Pelo contrário, se os governos (um ou mais de um) soubessem de uma nave espacial, com todo o info-controle superior necessariamente presente nela, por exemplo, num Dicionárienciclopédico Galáctico sobre o Conhecimento (Magia/Arte alien, Teologia/Religião alien, Filosofia/Ideologia alien, Ciência/Técnica alien e Matemática alien), fariam de tudo para ocultá-la, defendendo-a até à morte. Supus que (a partir do chamado Vaso de Warka, vá ler nas posteridades) tivesse de fato havido uma nave espacial em 3,5 mil anos antes de Cristo, na Suméria, onde é hoje o Iraque. Se alguém tivesse achado uma, teria criado uma sociedade secreta, digamos, os “homens de preto”, a Maçonaria, ou outra, para proteger o segredo eternamente, até tudo estar nivelado com aquele conhecimento. Matariam por aqueles conhecimentos superiores.

                            Seria o contrário do Arquivo X, um Anti X, de modo que na realidade a direção superior colocaria agentes para ocultar, para levar a causas perdidas, becos-sem-saída, confusões mentais, plantando notícias falsas na imprensa, perseguindo e liquidando quem chegasse muito perto, etc. Faria todo sentido mostrar POR DENTRO as conspirações, com várias pessoas chegando perto, sem nunca tocar de fato os conhecimentos ocultos. E aí abriríamos espaçotempo para a construção de 5,5 mil anos de geo-história humana, tocando todos os assuntos de nossa espécie, mostrando a manipulação dos e pelos governos, o compromisso de silêncio das elites detentoras do patrimônio. Isso ensejaria a “explicação”, a pseudo-explicação de um monte de coisas, de modo bem verossímil, bem plausível, bem aceitável. Com o aprimoramento da série detalhes sutis seriam inseridos em quatro níveis de decifração, conforme os telespectadores, de modo que ao final fosse sugerido que a própria criação da série se deveria a mais uma trama de proteção.

                            Veja só quanto espaço mais existe, nessa variação, feita do avesso! Infinitas oportunidades de construção. Maçons, Iluminatti, Rosas-Cruzes, Clube de Roma, Grupo Bildenberg, globalização, tudo poderia ser jogado no mesmo saco, com cabimento de causa.

                            Pessoas deparariam com certos detalhes, como acontece, fariam buscas e por trás agentes iriam cuidadosamente disseminando pistas falsas (naturalmente ajudados por aquele poder estranho). A própria migração geo-histórica dos livros e dos objetos, um ou outro parecendo aqui e ali, já seria emocionante, e de alto nível, atraindo muitos autores de peso, de grande profundidade de raciocínio, para infindáveis exercícios de elaboração de vieses literários.

                            Isso, sim, seria interessante.

                            Vitória, sábado, 23 de novembro de 2002.

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