sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


A Vontade de Deus

 

                            Criado que fui na religião católica e convivendo no Brasil com tantos cristãos, além de ver no mundo manifestações das religiões, naturalmente ouço muito falarem da VONTADE DE DEUS, sobre o quê decidi investigar. Como é que tantas pessoas sabem, ou pensam saber, a vontade de Deus?

                            Primeiro devemos investigar as palavras VONTADE, DE e DEUS, de modo a pensarmos se é possível haver o trânsito desde Deus até os seres humanos.

                            Vamos começar por DEUS.

                            Deus é o único que consegue saltar ao infinito, o não-finito mais propriamente, e todo que faz o salto torna-se o mesmo Deus, conforme demonstrei lá para trás. Isso ao cabo da migração nas pirâmides, na pontescada tecnocientífica e nas naturezas, não vou repetir agoraqui, você acreditará se quiser, ou irá ler. Fazendo o salto vê plenamente a Tela Final, a solução para todos os conflitos polares opostos/complementares, criando a “esfera” perfeita, com um único centro, no qual se encontram em complementaridade todos os diâmetros opositores. Assim sendo, Deus não tem par, é um só, sozinho eternamente; tudo o mais é Natureza, do par oposto/complementar Deus/Natureza, Ele/Ela, ELI. Todos são, de um modo ou de outro, infinitamente inconscientes perante Deus, que é o único plenamente consciente e resolvido. Os seres (deste universo que tem 100 bilhões de galáxias, cada uma com 100 a 1.000 bilhões de estrelas; fora os inumeráveis universos do pluriverso – e Deus deve sê-lo para todos), por via de raciocínio, não podem alcançar Deus, não podem compreendê-lo, não sendo senão por isso que todos ficam estarrecidos, segundo as lendas. É porque até os mais orgulhosos de si compreendem finalmente que há um poço infinito entre eles e Deus. Deus propriamente não pode ser visto, compreendido, tocado, nada que exista nos pares polares. Então, existe definitivamente uma separação não-finita entre os seres e Deus, isso que as pessoas chamam de Deus, tentando abarcar o não-finito com uma palavra, o que chega a ser uma ofensa.

                            Quanto a DE, pressupõe a Teoria da Comunicação, que no modelo chamaríamos de Teoria da Informação e do Controle, ou do Info-Controle ou Comunicação, TIC. Há um início, um meio e um fim, ou seja, o emissor, o meio e o receptor. Ora, o receptor é finito, recebendo desde um funil não-finito uma imensidão de dados que tentam vazar por um buraco tão estreito quanto seja estreita a pessoa (indivíduo, família, grupo, empresa). Não que da parte de Deus, sendo ele não-finito, onisciente, onipotente, onividente, etc., não possa vir, é que do lado de cá não há caixa d’água que agüente. Essa passagem, esse MEIO, esse DE é que é preocupante. Na lista dos sete níveis (de cima para baixo: iluminados, santos/sábios, estadistas, pesquisadores, profissionais, lideranças, povo) os iluminados recebem mais, e mesmo assim ficam esgotados. Claro que, sendo nossas memórias e inteligências limitadas, pouco podemos fazer sem distorcer as coisas.

                            Vejamos a VONTADE.

                            Como comparar uma vontade finita e uma Vontade não-finita? No Instituto de Pesquisa do Futuro que escrevi outrora, há quase 30 anos, coloquei o problema do anão e do gigante, no qual a maior façanha do primeiro estaria abaixo da menor do segundo: como eles se comunicariam? Os seres humanos têm vontades finitas, referentes a objetos finitos em quantidade e em qualidade, ou seja, têm aprendizado finito, tanto na Escola da Vida, não-pedagógica, quanto na Vida da Escola, educação de conteúdos, o que deveria nos prevenir quanto ao orgulho, às vezes desmesurado, de tantos idiotas.

                            Em resumo, você vê, por essa investigação modestinha, sonsa, que a questão é difícil. Não é de fácil solução. Evidente que Deus, querendo, faz qualquer coisa, essa é a definição.

                            Contudo, estou pensando em tantas pessoas que dizem saber qual é a Vontade de Deus, e saem por aí anunciando-a a torto e a direito, por exemplo, pastores e tantos outros, com tanta arrogância, tanta empáfia, tanta presunção, tanta insolência. E fazem isso para dominar as platéias, os ouvintes, e extorquir dinheiro delas e deles, o dízimo ou o que for. Tal pretensão de conhecer e até de dirigir Deus não é o caminho do Inferno?

                            Vitória, quarta-feira, 20 de novembro de 2002.

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