A Vontade de Deus
Criado
que fui na religião católica e convivendo no Brasil com tantos cristãos, além
de ver no mundo manifestações das religiões, naturalmente ouço muito falarem da
VONTADE DE DEUS, sobre o quê decidi investigar. Como é que tantas pessoas
sabem, ou pensam saber, a vontade de Deus?
Primeiro
devemos investigar as palavras VONTADE, DE e DEUS, de modo a pensarmos se é
possível haver o trânsito desde Deus até os seres humanos.
Vamos
começar por DEUS.
Deus
é o único que consegue saltar ao infinito, o não-finito mais propriamente, e
todo que faz o salto torna-se o mesmo Deus, conforme demonstrei lá para trás.
Isso ao cabo da migração nas pirâmides, na pontescada tecnocientífica e nas
naturezas, não vou repetir agoraqui, você acreditará se quiser, ou irá ler.
Fazendo o salto vê plenamente a Tela Final, a solução para todos os conflitos
polares opostos/complementares, criando a “esfera” perfeita, com um único
centro, no qual se encontram em complementaridade todos os diâmetros
opositores. Assim sendo, Deus não tem par, é um só, sozinho eternamente; tudo o
mais é Natureza, do par oposto/complementar Deus/Natureza, Ele/Ela, ELI. Todos
são, de um modo ou de outro, infinitamente inconscientes perante Deus, que é o
único plenamente consciente e resolvido. Os seres (deste universo que tem 100
bilhões de galáxias, cada uma com 100 a 1.000 bilhões de estrelas; fora os
inumeráveis universos do pluriverso – e Deus deve sê-lo para todos), por via de
raciocínio, não podem alcançar Deus, não podem compreendê-lo, não sendo senão
por isso que todos ficam estarrecidos, segundo as lendas. É porque até os mais
orgulhosos de si compreendem finalmente que há um poço infinito entre eles e
Deus. Deus propriamente não pode ser visto, compreendido, tocado, nada que exista
nos pares polares. Então, existe definitivamente uma separação não-finita entre
os seres e Deus, isso que as pessoas chamam de Deus, tentando abarcar o
não-finito com uma palavra, o que chega a ser uma ofensa.
Quanto
a DE, pressupõe a Teoria da Comunicação, que no modelo chamaríamos de Teoria
da Informação e do Controle, ou do Info-Controle ou Comunicação, TIC. Há um
início, um meio e um fim, ou seja, o emissor, o meio e o receptor. Ora, o
receptor é finito, recebendo desde um funil não-finito uma imensidão de dados que
tentam vazar por um buraco tão estreito quanto seja estreita a pessoa
(indivíduo, família, grupo, empresa). Não que da parte de Deus, sendo ele
não-finito, onisciente, onipotente, onividente, etc., não possa vir, é que do
lado de cá não há caixa d’água que agüente. Essa passagem, esse MEIO, esse DE é
que é preocupante. Na lista dos sete níveis (de cima para baixo: iluminados,
santos/sábios, estadistas, pesquisadores, profissionais, lideranças, povo) os
iluminados recebem mais, e mesmo assim ficam esgotados. Claro que, sendo nossas
memórias e inteligências limitadas, pouco podemos fazer sem distorcer as
coisas.
Vejamos
a VONTADE.
Como
comparar uma vontade finita e uma Vontade não-finita? No Instituto de
Pesquisa do Futuro que escrevi outrora, há quase 30 anos, coloquei o
problema do anão e do gigante, no qual a maior façanha do primeiro estaria
abaixo da menor do segundo: como eles se comunicariam? Os seres humanos têm
vontades finitas, referentes a objetos finitos em quantidade e em qualidade, ou
seja, têm aprendizado finito, tanto na Escola da Vida, não-pedagógica,
quanto na Vida da Escola, educação de conteúdos, o que deveria nos
prevenir quanto ao orgulho, às vezes desmesurado, de tantos idiotas.
Em
resumo, você vê, por essa investigação modestinha, sonsa, que a questão é
difícil. Não é de fácil solução. Evidente que Deus, querendo, faz qualquer
coisa, essa é a definição.
Contudo,
estou pensando em tantas pessoas que dizem saber qual é a Vontade de Deus, e
saem por aí anunciando-a a torto e a direito, por exemplo, pastores e tantos
outros, com tanta arrogância, tanta empáfia, tanta presunção, tanta insolência.
E fazem isso para dominar as platéias, os ouvintes, e extorquir dinheiro delas
e deles, o dízimo ou o que for. Tal pretensão de conhecer e até de dirigir Deus
não é o caminho do Inferno?
Vitória,
quarta-feira, 20 de novembro de 2002.
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