quarta-feira, 18 de janeiro de 2017


Amoralidade de Comte


 

                            No livro Introdução ao Pensamento Filosófico, 4ª edição, São Paulo, Loyola, 1990, que é de vários professores da UFES, o professor Carlo Bussola diz, à página 54: “Analisando o pensamento de Comte, concluímos que ele introduziu uma postura (mais do que um sistema de ideias) onde todos os que estão envolvidos com a ciência limitam-se unicamente à experiência. Comte esquecia que os dados científicos não são interpretados à luz de um princípio superior, apresentado pela filosofia; eles podem tornar-se cruéis e tiranos, dominadores cegos e amorais; cabe à filosofia desmascarar criticamente os pressupostos ideológicos da ciência e refletir sobre suas conseqüências éticas e políticas”, coloridos meus.

                            Vejamos que o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral é só um nono (1/9) científico. Como há a Tela Final, na qual todas as verdades soltas e relativas convergem numa Verdade absoluta que é a daquilo que é chamado Deus (a parte consciente de Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI), todas as verdades anteriores a esta são parciais, incompletas. Ora, todas as verdades dos racionais estão antes dessa integração, que é feita por um só, por razões de lógica. A Ciência, como via de conseqüência, é sempre parcial, não-integrada, por natureza dos pressupostos, das premissas. NO TRÂNSITO a Filosofia faz a aproximação dos conhecimentos parciais em todos cada vez mais gerais, sem, porém, realizar as experiências confirmadoras, que é papel da Ciência.

                            Os cientistas, devendo esmiuçar pequenas parcelas, fragmentos diminutos, não podem mesmo realizar essa missão de campo. Este é o encargo dos filósofos. Os cientistas de fato caem em suas preferências, que são filosoficamente atrasadas, relativas aos interesses filosóficos mais antigos, que por sua vez se baseavam em compreensões científicas ainda mais antigas. Essa filosofia anterior deu o cenário onde se criaram os cientistas – foi nela que os jovens que se tornariam cientistas se miraram e é ela que vai se refletir, preconceituosamente, em suas atividades adultas. Eles tendem a confirmá-la e a reafirmá-la. É neste sentido que os filósofos de agoraqui desmascaram os pressupostos filosóficos, que como doutrina se dogmatizaram, se ideologizaram. Então, é um ciclo: a ciência nova é baseada nos pressupostos filosóficos antigos que estão se transformando em ideologia. Feita a nova filosofia ela vai ser nova ciência mais à frente. Então é um círculo de mascaramento e desmascaramento, parcialização científica e totalização filosófica. A Filosofia é mais completa que a Ciência, contudo é menos específica e precisa que esta. A Ciência é mais determinante, no entanto é menos globalizante, não permite ver o quadro do quebra-cabeças cheio de pecinhas soltas. São os dois lados da mesma moeda filo-científica generalista-parcialista. Apesar de infelizmente se odiarem, não podem viver um sem o outro.

                            De fato, como diz Bussola, os dados soltos da Ciência, ou reunidos em pequenas e incompletas teorias, não são os de um conhecimento superior, no sentido de ser completo. Os próprios cientistas maiores estão fazendo filosofia ao reunir os elementos ou modelos.

                            Se tais dados relativos são indevidamente absolutizados, o que é impróprio para eles, eles realmente se tornam cruéis e tiranos. Veja que quando os cruéis e os tiranos querem dominar eles afastam os filósofos e os cientistas grandes que fazem filosofia, não os filósofos pequenos, os ideólogos cooptáveis, nem os obedientes cientistas pequenos, que nada indagam.

                            Comte estava errado e tenho cada vez mais detestado-o como promotor mor do fascismo que nasceu no século XIX e viveu no século XX.

                            Vitória, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002.

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