Amoralidade
de Comte
No
livro Introdução ao Pensamento
Filosófico, 4ª edição, São Paulo, Loyola, 1990, que é de vários
professores da UFES, o professor Carlo Bussola diz, à página 54: “Analisando o
pensamento de Comte, concluímos que ele introduziu uma postura (mais do que um
sistema de ideias) onde todos os que estão envolvidos com a ciência limitam-se
unicamente à experiência. Comte esquecia que os dados científicos não são
interpretados à luz de um princípio superior, apresentado pela filosofia; eles podem
tornar-se cruéis e tiranos, dominadores cegos e amorais; cabe à filosofia
desmascarar criticamente os pressupostos ideológicos da ciência e refletir
sobre suas conseqüências éticas e políticas”, coloridos meus.
Vejamos
que o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática) geral é só um nono (1/9) científico. Como há a
Tela Final, na qual todas as verdades soltas e relativas convergem numa Verdade
absoluta que é a daquilo que é chamado Deus (a parte consciente de
Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI), todas as verdades anteriores a esta são parciais,
incompletas. Ora, todas as verdades dos racionais estão antes dessa integração,
que é feita por um só, por razões de lógica. A Ciência, como via de
conseqüência, é sempre parcial, não-integrada, por natureza dos pressupostos,
das premissas. NO TRÂNSITO a Filosofia faz a aproximação dos conhecimentos
parciais em todos cada vez mais gerais, sem, porém, realizar as experiências
confirmadoras, que é papel da Ciência.
Os cientistas,
devendo esmiuçar pequenas parcelas, fragmentos diminutos, não podem mesmo
realizar essa missão de campo. Este é o encargo dos filósofos. Os cientistas de
fato caem em suas preferências, que são filosoficamente atrasadas, relativas
aos interesses filosóficos mais antigos, que por sua vez se baseavam em
compreensões científicas ainda mais antigas. Essa filosofia anterior deu o
cenário onde se criaram os cientistas – foi nela que os jovens que se tornariam
cientistas se miraram e é ela que vai se refletir, preconceituosamente, em suas
atividades adultas. Eles tendem a confirmá-la e a reafirmá-la. É neste sentido
que os filósofos de agoraqui desmascaram os pressupostos filosóficos, que como
doutrina se dogmatizaram, se ideologizaram. Então, é um ciclo: a ciência nova é
baseada nos pressupostos filosóficos antigos que estão se transformando em
ideologia. Feita a nova filosofia ela vai ser nova ciência mais à frente. Então
é um círculo de mascaramento e desmascaramento, parcialização científica e
totalização filosófica. A Filosofia é mais completa que a Ciência, contudo é
menos específica e precisa que esta. A Ciência é mais determinante, no entanto
é menos globalizante, não permite ver o quadro do quebra-cabeças cheio de
pecinhas soltas. São os dois lados da mesma moeda filo-científica
generalista-parcialista. Apesar de infelizmente se odiarem, não podem viver um
sem o outro.
De
fato, como diz Bussola, os dados soltos da Ciência, ou reunidos em pequenas e
incompletas teorias, não são os de um conhecimento superior, no sentido de ser
completo. Os próprios cientistas maiores estão fazendo filosofia ao reunir os
elementos ou modelos.
Se
tais dados relativos são indevidamente absolutizados, o que é impróprio para
eles, eles realmente se tornam cruéis e tiranos. Veja que quando os cruéis e os
tiranos querem dominar eles afastam os filósofos e os cientistas grandes que
fazem filosofia, não os filósofos pequenos, os ideólogos cooptáveis, nem os
obedientes cientistas pequenos, que nada indagam.
Comte
estava errado e tenho cada vez mais detestado-o como promotor mor do fascismo
que nasceu no século XIX e viveu no século XX.
Vitória,
sexta-feira, 27 de dezembro de 2002.
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