sábado, 21 de janeiro de 2017


Achados e Perdidos


 

                            A revista Scientific American (Cientista Americano) ano 1, número 1, sendo depois de 157 anos (primeira americana de 1845) em português no Brasil, página 20, artigo Loucuras do Mercado, diz que “cerca de US$ 6 trilhões em valores de cotações desapareceram entre o estouro da bolha da NASDAQ, em abril de 2000, e sua recente estabilização (...)”.

                            Essa coisa parece uma daquelas seções denominadas Achados e Perdidos (o que, aliás, é esquisito – deveria chamar-se Perdidos e Achados, porque o primeiro logicamente vem antes). Seis trilhões NÃO SOMEM assim, mudam de mãos. Primeiro, sob condições de continuidade da produção, sem recessão, apenas há transferência. Os estudiosos, os pesquisadores em geral se recusam a mostrar como esse dinheiro MUDOU DE MÃOS, ainda continua circulando no mundo, mormente nos EUA – alguém perdeu e alguém ganhou, alguém perdeu e alguém achou. Bandidagem do mais alto calibre fez conversão numérica e as poupanças de milhões foram engordar algumas contas.

                            Segundo, mesmo se houvesse recessão, nominalmente há perda porque ninguém quer pagar 800 mil dólares numa casa, pagariam apenas 100 mil, digamos. Nestas condições houve uma multiplicação monetária, a moeda sofreu deflação, aplicou-se lhe socioeconomicamente um multiplicador, quer ele seja linear, de todos e cada um, ou seletivo, mais de alguns que de outros, sendo neste caso o mecanismo inverso da inflação. Ainda assim os preços reais continuariam os mesmos, sendo retomados em outras bases quando do crescimento. Um hangar de aviões não perde valor sensível, real, com deflações, nem é realmente valorizado com inflações. Só o valor venal, de venda, muda.

                            Então, de todo modo, os seis trilhões continuam por aí, nos bolsos de uns em vez de nos de outros, circulando em paraísos fiscais, ou dentro ou fora dos EUA na economia não protegida por sigilo asqueroso, internato dos meliantes. Estarrecedor não é só ter acontecido – é, muito mais, que ninguém investigue a fundo.

                            Vitória, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003.

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