sábado, 21 de janeiro de 2017


A Semaninha de 22

 

                            A Semana da Arte Moderna aconteceu no Teatro Municipal e São Paulo de 11 a 18 de fevereiro de 1922 e reuniu nomes agora famosos e destacados, como Anita Malfatti, o suíço John Graz, os pintores Emiliano Di Cavalcanti e Vicente do Rego Monteiro, e vários outros. Muitos poetas e escritores aderiram depois aos princípios de desconstrução do academicismo europeu anterior. No entanto o que fizeram foi re-europeizar o Brasil, apenas transpondo o fosso de 50 anos de desatualização em todos os campos.

                            Não foi nada de grandioso, mesmo. Superlouvaram porque o Brasil nunca foi capaz de nada realmente imponente, estamos sempre fazendo pequeninas coisas a que ninguém presta atenção, diferentemente dos japoneses com a Restauração Meiji em 1868, ou a recuperação pós-guerra, a partir da destruição quase total em 1945. Ou o Caminho de Duas Vias dos chineses implantado com a entrada de Deng Xiaoping em 1982. Ou o crescimento da Coréia do Sul. Ou a fantástica mudança mundial promovida pelos EUA nos últimos 60 anos, ou as conquistas européias, ou tudo que poderíamos citar.

                            Enfim, falta tutano aos brasileiros. E aí pegamos qualquer coisinha e elevamos à condição de mito. A Semana da Arte Moderna modernizou o quê? Nas tecnartes (DA VISÃO: poesia, prosa, pintura, desenho, fotografia, dança, moda, etc.; DA AUDIÇÃO: música, discurso, etc.; DO PALADAR: comida, bebida, pasta, tempero, etc.; DO OLFATO: perfumaria, etc.; DO TATO: cinema, teatro, urbanismo, paisagismo/jardinagem, decoração, esculturação, tapeçaria, arquiengenharia, etc.) o que mudou? O que deu grandes saltos? O que se tornou autônomo, independente da Europa? Nada, ou quase nada. Não houve um Bauhaus, não houve re-desenho de objetos ou relações, ficamos na mesma. As cidades não se modificaram, as artes não se alteraram, nem os conhecimentos (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) se transformaram.

                            Grande gritaria intelectual e artística, assim mesmo restrita ao eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Ninguém fora dali percebeu. Perguntem ao povo! Façam enquetes! Ninguém ouviu falar, exatamente porque não foi importante para o povo, sequer para as elites. Não interferiu no desenvolvimento, não propulsionou o crescimento, não fez absolutamente nada.
                            Vitória, domingo, 05 de janeiro de 2003.

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