sábado, 14 de janeiro de 2017


A Mulher Perfeita

 

                            Surge diante de um camarada a MULHER PERFEITA, sem nenhum defeito físico, todas as curvas no lugar: busto, bunda, barriga batida, rosto, joelhos, pés, tudo mesmo. Ele, obviamente, se apaixona. Descobre que ela tem os órgãos todos perfeitos, inclusive o útero. Nenhuma doença, nem de longe, dentes brilhantes e certinhos, sem ter ido nunca ao dentista. Têm filhos perfeitos, lindos, que além de tudo são inteligentes. E ela não reclama da feiúra dele, nem de seus fracassos. Não faz cobranças, trabalha muito.

                            Ela mesma é inteligentíssima, muito esperta, e nem fala muito. Compreende todos os conceitos, debate todos os assuntos, faz o marido progredir em suas visões de mundo. Organiza sempre tudo, está um passo adiante, a casa é assombrosa, motivo de inveja (que é um sentimento tão horrível, mas que se pode fazer?) permanente das vizinhas. Os maridos das redondezas a querem também, cantam-na sem qualquer sucesso, ela é completamente fiel, totalmente dedicada ao marido e aos filhos. Trabalha fora, ganha bem, é agradabilíssima com os colegas e as colegas, é motivo de imensa satisfação do chefe.

                            Vão passando os anos, quando o marido tenta brigar ela se cala ou vai conduzindo as coisas até a pacificação completa. Na cama é não apenas perfeita como um verdadeiro furor de quentura.

                            Os anos vão passando e parece que a família está no paraíso, a vida mais perfeita que pode existir. Mas o marido vai ficando abatido, descontente com tanta perfeição, de não haver problema algum, o que nos permitira discutir os sonhos de perfeição que temos. Seriam nossas vidas problemáticas realmente ruins? A solução de problemas não é condição de avanço? Há aqui um mundo de perguntas e respostas para um filme piloto e uma série.

                            Vitória, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002.

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