sábado, 21 de janeiro de 2017


A Base Técnica das Revoluções

 

                            Quando é que se dá uma revolução?

                            Olhando assim através do modelo penso poder dizer que é quando o corpo destoa da mente, por exemplo, o corpo social da mente social, em cada setor – a revolução é um divórcio, uma ruptura total e não meramente baderna, com gente saindo às ruas. Não é somente a substituição de uma classe social por outra, pois existem outros gêneros de revoluções e devemos prover uma teoria geral delas que identifique TODAS as práticas conhecidas na geo-história terrestre.

                            As revoluções são, inclusive da Psicologia (revoluções psicanalíticas ou de figuras, do vestir, do calçar, do se alimentar; revoluções psico-sintéticas ou de objetivos, de metas, de finalidades – para onde vamos?; revoluções econômicas ou de produções; revoluções sociológicas ou de organizações; revoluções geo-históricas ou de espaçotempos). Podem se dar nas 6,5 mil profissões. Na Bandeira da Proteção (lar, armazenamento, saúde, segurança, transportes). Na Economia (revoluções agropecuárias/extrativistas, revoluções industriais, revoluções comerciais, revoluções nos serviços e revoluções bancárias). Podem se dar no Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral. Podem se dar em qualquer lugar e instante. Como é que os termos da Revolução Sociológica, de substituição de uma classe por outra, satisfariam as condições na Física ou na Astronomia, que são da pontescada científica? Não satisfazem.

                            Devemos ter uma definição simples e abrangente, que tanto valha na administração quanto na silagem, na construção de aquedutos quanto na costura, que valha mesmo em tudo. A revolução é um salto, quando há uma tremenda irradiação, a ocupação súbita de um espaçotempo antes inabitado, onde penetra a NOVA ESPÉCIE (seja biológica, de conhecimento, de maturidade do agente, etc.). Surgindo uma nova espécie e havendo um espaço vasto em que ela se lance, ocorre a revolução. Uma nova mente ou modelo de existência é criado e não havendo competidor nem predador para ela todo o espaçotempo está naquele patamar pronto para avanço.

                            Assim, havendo uma nova base técnica ou científica é criada a sustentação da revolução, tal como se deu, a seu tempo, com o cabresto, as esporas, a sela (com santantônio) e os arreios correlativos dela, toda a aparelhagem do cavalo, frente aos que não tinham. Ou o arco-e-flecha. Ou a Internet. Ou a energia atômica. Ou a contabilidade, como inventada pelos italianos no fim da Idade Média, ou quando tenha sido. Se for criada mente nova em corpo velho a nova mente criará um corpo novo, que é justamente a revolução. Não foi apenas a arruaça em 1789 que fez a Revolução Francesa, isso é o de menos; foi o fato de que a nova info-comunicação ou info-controle burguês não cabia nos marcos da nobreza. Os canais de circulação de IC da nobreza eram impróprios. Assim sendo, mesmo onde não houve bagunça a revolução se deu. A mente nova quer o futuro e os problemas do futuro como forma de prover soluções, que serão sempre novas, e o corpo velho quer o passado, a evolução até onde já se deu. Fatalmente o corpo morre para dar lugar à nova mente.

                            Assim será frente a qualquer paradigma. O paradigma é constituído de soluções passadas, que continuarão soluções onde o mundo for menor e menos exigente, digamos no segundo, no terceiro, no quarto mundos. Desse modo as revoluções vêm em cascata, elas descem degraus, e são revolucionárias as soluções cada vez que encontram qualquer domínio do corpo velho. Uma revolução teológica que comece no primeiro mundo só será revolução no quarto mundo passadas gerações – sempre irão vê-las como novidades. A mente nova revolucionária tem por missão chocar-se com o segundo, terceiro e quarto corpos, que ainda estão vivendo as revoluções antigas e caducas, ou nem tanto assim, na medida em que exigências menores necessitam implicitamente de soluções menores, mais canhestras. Será revolução no Brasil o que já o foi nos EUA, Europa e Japão há décadas.

                            Resumindo: cria-se uma base, não apenas técnica, mas de Conhecimento geral mais vasta do que o corpo velho pode suportar. Este estrila, geme, mas deve ceder. A mente nova entra no espaçotempo livre e se espalha como revolução, que é justamente o anúncio visível da morte do corpo decrépito, antiquado, ancilosado, inflexibilizado. Isso vale para tudo. Se a costura desenvolve um modo novo de ver, este fatalmente se chocará com as práticas antigas.

                            Eis um modo não apenas de olhar as revoluções do passado, como de olhar o presente em busca de sinais.

                            Vitória, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003.

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