sábado, 21 de janeiro de 2017


Vendo o País

 

                            Antigamente (1989, antes da Internet – era outra era) se desejássemos “ver um país”, devíamos usar mapas e a mídia (TV, Rádio, Revista, Jornal e Livro), mais as notícias que pudéssemos obter de pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo – por seus representantes).

                            Demorava.

                            Às vezes demorava muito.

                            Em algumas ocasiões demorava demais.

                            Usávamos dicionários para ver as palavras e enciclopédias para ver as imagens, entre as quais estariam as dos Atlas (planos) ou globos (esféricos). Nunca ninguém julgou que Atlas e globos pertenciam à classe das enciclopédias, mas é verdade, pertencem mesmo.

                            Demorava e era exasperante, irritante demais.

                            Agora existe a Internet, um oceano de caos e ineficiência, onde perdemos preciosas horas, por vezes conseguindo quase nada. É muito melhor que antes, porém muito pior que depois, quando já existir em crescimento exponencial isso que estou propondo - nem se comparará.

                            Podemos ver mentalmente uma circunferência se espraiando de nós, como quando uma pedra cai na água e produz uma sucessão delas. Primeiro as casas das redondezas, depois os bairros em volta, a seguir as cidades do entorno, os estados vizinhos, as nações fronteiriças, os mundos em seqüência. A Internet ainda não está organizada assim. Aliás, ela está muito mal organizada, se é que está, embora o Google, portal extraordinário, demore apenas 0,03 segundo para trazer um mundo de páginas ou sites ou sítios. O Google acessa hoje 4,5 bilhões de sítios, é fantástico.

                            Contudo, falta isso de podermos olhar, de ver o mundo. Como veríamos o Brasil? A Internet (que pedi fosse BrasilNET e NETES, NET do Espírito Santo) não foi potencializada porque por preconceito e atraso mental ainda não nos voltamos para ela.

                            Num raio de 100, 200, 400, 800, 1.600 metros de mim, há o quê? Se eu perguntar nada obterei. Na realidade nada foi preparado para tal, a Internet não foi usada para que víssemos os conjuntos (pessoas e ambientes, governos e empresas, políticas e administrações), ela é um amontoado de retalhos PORQUE isso não induz a verdadeira democracia, que provém da ordem, não da desordem. Então a Internet, que é em si mesma um poder verdadeiramente democratizante, libertador, não é nunca usada para organizar, é um depósito de infinitas gotas d’água, sem qualquer forma aparente.

                            A Internet é como que invisível, não-transparente, ela não é cristalina, translúcida. É um amontoado inacreditável de dados, de informações que não produzem nenhuma inteligência nova PORQUE isso libertaria de fato a humanidade.

                            Assim sendo, nela não podemos ver o mundo, nem o país, nem o estado, nem o município/cidade, nem a empresa, nem o grupo, nem a família, nem o indivíduo. Nela se despeja de tudo, para que nada mesmo faça SENTIDO, nada aponte qualquer coisa de útil e agradável. É uma miscelânea, um caos, que só será livre enquanto não levar à organização do povo.

                            Vitória, domingo, 29 de dezembro de 2002.

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