segunda-feira, 14 de agosto de 2017


Nunca Haverá Futuro

 

                            A Rede Globo no final de cada ano divulga o bordão “o futuro já começou”, mas na realidade jamais veremos o futuro, qualquer que seja o racional.

                            Entre outras coisas de distintivas o modelo trouxe essa convicção formidável e libertadora: a) não há passado; b) nunca teremos qualquer futuro. Tudo que há é o presente. Os presentes que aconteceram e que chamamos em conjunto de passado, todos os ontem e anteontem, foram, cada um deles, presente; o dia de ontem foi o presente-ontem, quando era presente e o hoje não havia. Antes-de-ontem não foi dois dias atrás, foi o presente-dia daquele dia. Todos os supostos presentes estão encavalados no agoraqui, no hoje, irremediavelmente. Meu pai e minha mãe não estão vivos no passado, estiveram vivos ele até 1978 e ela até 2002. Eles não estão no passado, estiveram nalgum presente, até aqueles pontos limites em que morreram; estão agoraqui como ossos e espíritos e assim será com cada um de nós. Nosso pai e nossa mãe estão conosco, dentro de nós, enquanto nos lembrarmos deles (porisso toda lembrança se torna mais preciosa).

                            Do mesmo modo, não há nenhum amanhã, só há hoje. Quando transcorrerem mais tantas horas, minutos e segundos de agora haverá um outro hoje. Não chegaremos ao amanhã; na manhã de amanhã será novamente hoje. O futuro nunca começou nem nunca começará, ele é ideal, assim como o passado – são idéias dentro de nossas cabeças. O que há é IDÉIA DE FUTURO, assim como IDÉIA DE PASSADO, não existindo realmente nenhum futuro nem nenhum passado – dizer deles é apenas fazer propaganda para os desavisados. Ninguém “revive o passado”, nem “entra no futuro” – o presente é o limite para ambos os lados. SE houvesse chance do mundo terminar (não sei se há), ele não terminaria amanhã, terminaria nalgum hoje – é porisso mesmo que temos de ter O MAIOR CUIDADO. Eis a razão de o presente ser tão precioso, ele é a única escola com uma sala só, com uma janela para a esquerda ou passado, que na realidade é apenas um quadro na parede, e uma janela para a direita ou futuro, que na verdade é somente um quadro vazio onde projetamos nossas esperanças PRESENTES.

                            Tal compreensão torna o presente preciosíssimo. O companheirismo é agora compreendido como sendo do maior significado.

                            Vitória, terça-feira, 21 de dezembro de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário