sexta-feira, 11 de agosto de 2017


Das Pós-Cavernas às Pós-Cidades

 

                            Vimos que as cavernas borbulharam para fora a partir das bolhas-quarto que foram criadas dentro; na medida em que a Caverna geral não comportou mais as separações internas estas migraram para fora como bolhas separadas que foram se somando – toda aquela seqüência já exposta.

                            Essas bolhas se separaram das cavernas e foram se distanciando, ainda como bolhas; certamente terem se separado das cavernas criou a idéia de separação. São sempre os pobres que vão morar mais longe, civilizando a fronteiras; depois que o fazem os ricos vão os pobres vão então para ainda mais longe e assim sucessivamente, como vemos acontecer. Os ricos ficavam nas cavernas, os pobres fora; na medida em que do lado de fora ficou melhor que do lado de dentro os ricos se apoderaram das bolhas e mandaram os pobres para mais longe, onde eles foram novamente civilizar.

                            Agora já vemos uma borbulha distante, todas as bolhas ainda juntas; foi preciso que, como já vimos, surgisse uma primeira rua, pois ninguém tinha idéia de separação, de haver entre duas bolhas um vazio, que era assustador. Quando a primeira rua foi inventada isso anunciou o futuro das pré-cidades. Surgida a primeira rua muitas outras se seguiram, embora distantes no tempo, pois a idéia de segregação era revoltante. Novamente, deve ter surgido como uma heterodoxia dos pobres, uma heresia dos despossuídos, sendo copiada e expandida depois pelos ricos. Precisamos ver isso mais de perto e melhor, raciocinar mais, olhar bem de pertinho mesmo. Como essas pós-cavernas eram feitas de barro jogado (como nas casas de ramos e barro até hoje na África e em toda parte) em rede de ramos, tudo isso deve ter desaparecido, exceto se por felicidade algo restou. Procurar seria importante, encontrar fundamental. Se por acaso e por suprema alegria encontrássemos esse barro moldado certamente também acharíamos as ruas.

                            Vitória, sexta-feira, 10 de dezembro de 2004.

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