Curva do Sino da
Geo-História, Invenção do Passado, do Presente e do Futuro
Olhando a geografia
e a história como Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições Estatísticas,
vemos que a maior parte dos fenômenos está distribuída no passado (história) e
no presente (geografia); não há nenhum (que conheçamos) situado no futuro.
Ora, ficou bem claro
no modelo que A HISTÓRIA É A INVENÇÃO DO PASSADO, enquanto a geografia é a
invenção do presente, é aquilo que é divulgado, de tudo que acontece.
Evidentemente a classe no poder tem o máximo interesse em dominar tanto os
horizontes passados ou históricos quanto o horizonte (ou planeta) presente ou
geográfico. O presente é MAPA DO PRESENTE, que depende dos códigos de
decifração que a burguesia (o conjunto das elites dominantes) e as elites (cada
uma das burguesias) não distribui; é da lógica do domínio que a burguesia vá
CIFRAR o presente, quer dizer, interpor vários graus de dificuldades ao seu
entendimento e à sua utilização pelo povo e por seus partidários, visando
impedir seu acesso ao futuro enquanto POSTULADOR DE DOMINÂNCIA, quer dizer, de
auto-nomia, de auto-regulação do auto-regrador, aquele que faz para si suas
regras. Com toda certeza a burguesia, como classe polar, que identificou seu
pólo, sua oposição suficiente (porque existe de fato) e necessária (porque quer
existir separada), não pode tolerar OUTROS DELIMITADORES, outros criadores de
contornos ou bordas, outros definidores de geo-histórias, de presentes e
passados. Ela DISCIPLINA, impõe limites imaginários aos pensares, tanto quanto
militarmente aos fazeres.
Ela quer que o
futuro imediato se assemelhe ao presente imediato, ao ontem, no máximo, e não
ao anteontem, ao passado; quer colocar no futuro mais média, semelhança de si,
quer dizer, mais de SUA ONDA. Assim, ela INVENTA O PASSADO e até inventa o
futuro através da ficção científica. De fato, ela inventa também o presente,
passando-o por um FILTRO DE ATUALIZAÇÃO – nenhuma realidade atual escaparia ao
seu CRIVO DE UTILIDADE: o que é útil agoraqui? Ela se pergunta e não deixa
vazar nada que a atrapalhe, ou pelo menos busca conter ao máximo. Ela está no
meio da Curva do Sino, temendo tanto o passado quanto o futuro. O futuro, sim,
é imediato; mas, e o passado? Sim, também, porque o passado poderia ser
reinterpretado. Não apenas temos notícia segura de que lá estavam duas classes
dominantes que não eram as burguesas (ainda que mais detestáveis: patrícios
escravistas e nobres feudalistas), como se poderia ver no processo de
constituição da burguesia os anúncios de suas fraquezas.
Então, ela não pode
permitir o estudo REAL da história, o estudo contestatório dela, as
divergências. Mas, de todos os mapas históricos que ela teme o que mais teme é
o mapa-presente, o mapa geográfico. Então, ela inventa o presente também, ou
principalmente. Não investiga e não deixa investigar os temas preocupantes.
Deixa vazar a falsa-revolução, os pseudo-revolucionários que trabalham para ela
pensando-se do povo. Porque no presente é que podem se dar as GUERRAS DE
SUBSTITUIÇÃO de classes. Por exemplo, o proletariado não pode lutar nas
barricadas de Paris de 150 anos atrás; a sua luta deve ser agora. Contudo, os
pseudo-revolucionários estão sempre remetendo o povo às nostalgias do antigo,
ÀQUELES FEITOS de tal ou qual figura, porque assim não precisam lutar a luta de
agoraqui. O povo deve lutar para substituir a burguesia AGORA e AQUI, não
preteritamente, não antes, nem acolá.
A história mais
recente é a geografia, e é ela o campo de guerra. A história, quando feita como
índice de libertação, apenas des-venda no passado as fraquezas ANTIGAS (os
burgueses já se aprimoraram, mas nem todos, só a frente de ondas, a burguesia
mais avançada, a burguesia atualizante, que atualiza). Cabe à geografia a
revolução. A história fornece os escudos que nos defendem DO PASSADO, para que
não soframos com as flechas enferrujadas.
Os historiadores
populares devem, então, buscar no passado as CUNHAS das fraquezas das frações
fracas da burguesia.
Vitória, sábado, 27
de novembro de 2004.
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