quarta-feira, 9 de agosto de 2017


Curva do Sino da Geo-História, Invenção do Passado, do Presente e do Futuro

 

                            Olhando a geografia e a história como Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições Estatísticas, vemos que a maior parte dos fenômenos está distribuída no passado (história) e no presente (geografia); não há nenhum (que conheçamos) situado no futuro.

                            Ora, ficou bem claro no modelo que A HISTÓRIA É A INVENÇÃO DO PASSADO, enquanto a geografia é a invenção do presente, é aquilo que é divulgado, de tudo que acontece. Evidentemente a classe no poder tem o máximo interesse em dominar tanto os horizontes passados ou históricos quanto o horizonte (ou planeta) presente ou geográfico. O presente é MAPA DO PRESENTE, que depende dos códigos de decifração que a burguesia (o conjunto das elites dominantes) e as elites (cada uma das burguesias) não distribui; é da lógica do domínio que a burguesia vá CIFRAR o presente, quer dizer, interpor vários graus de dificuldades ao seu entendimento e à sua utilização pelo povo e por seus partidários, visando impedir seu acesso ao futuro enquanto POSTULADOR DE DOMINÂNCIA, quer dizer, de auto-nomia, de auto-regulação do auto-regrador, aquele que faz para si suas regras. Com toda certeza a burguesia, como classe polar, que identificou seu pólo, sua oposição suficiente (porque existe de fato) e necessária (porque quer existir separada), não pode tolerar OUTROS DELIMITADORES, outros criadores de contornos ou bordas, outros definidores de geo-histórias, de presentes e passados. Ela DISCIPLINA, impõe limites imaginários aos pensares, tanto quanto militarmente aos fazeres.

                            Ela quer que o futuro imediato se assemelhe ao presente imediato, ao ontem, no máximo, e não ao anteontem, ao passado; quer colocar no futuro mais média, semelhança de si, quer dizer, mais de SUA ONDA. Assim, ela INVENTA O PASSADO e até inventa o futuro através da ficção científica. De fato, ela inventa também o presente, passando-o por um FILTRO DE ATUALIZAÇÃO – nenhuma realidade atual escaparia ao seu CRIVO DE UTILIDADE: o que é útil agoraqui? Ela se pergunta e não deixa vazar nada que a atrapalhe, ou pelo menos busca conter ao máximo. Ela está no meio da Curva do Sino, temendo tanto o passado quanto o futuro. O futuro, sim, é imediato; mas, e o passado? Sim, também, porque o passado poderia ser reinterpretado. Não apenas temos notícia segura de que lá estavam duas classes dominantes que não eram as burguesas (ainda que mais detestáveis: patrícios escravistas e nobres feudalistas), como se poderia ver no processo de constituição da burguesia os anúncios de suas fraquezas.

                            Então, ela não pode permitir o estudo REAL da história, o estudo contestatório dela, as divergências. Mas, de todos os mapas históricos que ela teme o que mais teme é o mapa-presente, o mapa geográfico. Então, ela inventa o presente também, ou principalmente. Não investiga e não deixa investigar os temas preocupantes. Deixa vazar a falsa-revolução, os pseudo-revolucionários que trabalham para ela pensando-se do povo. Porque no presente é que podem se dar as GUERRAS DE SUBSTITUIÇÃO de classes. Por exemplo, o proletariado não pode lutar nas barricadas de Paris de 150 anos atrás; a sua luta deve ser agora. Contudo, os pseudo-revolucionários estão sempre remetendo o povo às nostalgias do antigo, ÀQUELES FEITOS de tal ou qual figura, porque assim não precisam lutar a luta de agoraqui. O povo deve lutar para substituir a burguesia AGORA e AQUI, não preteritamente, não antes, nem acolá.

                            A história mais recente é a geografia, e é ela o campo de guerra. A história, quando feita como índice de libertação, apenas des-venda no passado as fraquezas ANTIGAS (os burgueses já se aprimoraram, mas nem todos, só a frente de ondas, a burguesia mais avançada, a burguesia atualizante, que atualiza). Cabe à geografia a revolução. A história fornece os escudos que nos defendem DO PASSADO, para que não soframos com as flechas enferrujadas.

                            Os historiadores populares devem, então, buscar no passado as CUNHAS das fraquezas das frações fracas da burguesia.

                            Vitória, sábado, 27 de novembro de 2004.

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