terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Telefone Azul

 

                            Sempre brinquei, dizendo que deveriam instalar vários telefones destinados exclusivamente às mulheres, e um só para os homens; ainda assim no das mulheres filas enormes se formariam, enquanto o dos homens de vez em quando estaria vazio e elas fatalmente pediriam para usar. É que as mulheres falam muito. A irmã da V, ex, chegou a falar de Sergipe três horas inteiras com a mãe. A AP, esposa de um amigo, pagou, quando o dólar estava 1,5/1,0, há uns quatro anos, mil e setecentos reais num só mês de telefone celular.

                            Depois pensei que poderia ser mesmo.      

                            Acho que os telefones azuis (azul = MULHER, na Rede Cognata) poderiam ser destinados a elas e os vermelhos (= HOMEM) a nós. Vários azuis e um vermelho.

                            Pensando no Modelo da Caverna, faz sentido, e até ajuda a avançar hipóteses delimitadoras. Se as mulheres ficavam dentro e nas redondezas da caverna, usavam muito a memória plana e espacial, ao passo que os homens, saindo à caça de coisas vivas e carniças (alguns antropólogos adotam essa hipótese, que eu rejeito, pois, o nosso olfato é apurado contra coisas podres), usavam uma memória de linha e ponto, por assim dizer.

                            Além disso, as mulheres deviam controlar as crianças, falar umas com as outras, nomear uma vastidão de objetos (coisas, acidentes geográficos, animais, plantas, fungos, plantios incipientes, contagem de estoques, repartição das coletas, etc.), de modo que a memória volumosa e uma língua bem apurada em substantivos deve ter surgido, a Língua das Mulheres, conforme eu já falei, por oposição/complementação à Língua dos Homens, muito mais econômica e comandatária, adjetivante de velocidade e força, eu acho, ressaltando as qualidades relativas a confronto. A LM deve ter adjetivos estáticos, que falam de beleza estacionária, o que não faz sentido algum numa caça que deve contar com velocidade e presteza.

                            Para controlar tantas crianças, umas às outras, os animais de criação, toda a enorme quantidade de trabalho da tribo, as mulheres precisavam mesmo de uma memória fenomenal e de uma língua bem detalhada. Elas foram preparadas pela evolução do nosso estilo de vida para falar muito, falar continuamente, falar sem parar.

                            Eis agora a razão antropológica evolutiva, eu penso, para realmente instalar telefones diferentes para uns e outras.

                            Vitória, domingo, 03 de novembro de 2002.

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