segunda-feira, 16 de janeiro de 2017


Tá Entendendo, Pai?

 

                            Certo dia fomos Gabriel e eu, como fazemos com certa frequência, tomar água de coco, perto do carro estando pai e seu filho de dois ou três anos. Em um instante qualquer o menino perguntou “tá entendendo, pai? ”, querendo dizer: ESTÁ PERCEBENDO O CONCEITO?

                            Pois ninguém pode pretender que se perceba o sentimento ou o sentidinterpretação. Ninguém perguntaria se outro está entendendo o que ele está ouvindo, nem se percebe o amor que sente. As pessoas meramente anunciam os sentimentos ou os sentidinterpretações. Estou vendo, te amo, está quente. Ninguém pergunta: você está compreendendo minha desolação? Sentimentos não são transferíveis, eles são apenas sentidos; podem até ser interpretados depois, mas não são transferíveis enquanto essências.

                            O garoto estava perguntando se o pai percebia o conceito.

                            Isso com dois ou três anos, mal tinha aprendido a falar e não só compreendia a complexidade da língua como estava apto a perguntar a um adulto, muito mais velho, com 7, 8, 9, 10 vezes a sua idade, se estava percebendo as estruturas por debaixo das formas.

                            Como perguntou Chomsky há 30 ou 40 anos, como é que se dá que as mentes, recém entradas no mundo, possam desvendar as complexas camadas das línguas? Não há treinamento. Se houver nem os adultos serão capazes de perceber, muito menos explicar, como funciona a Língua geral. Nem mesmo os acadêmicos, que passam a vida inteira estudando o português, podem de fato compreender essa língua. Então, como é que um bebê de uns meses de idades pode não apenas falar como até presumir em adultos dificuldades de dedução e inferência, indução? Não é espantoso demais?

                            Evidentemente não apenas a capacidade de decifração está inserida no ADRN como também a mente não é uma tábula rasa, um quadro sem nada escrito. Há nele potenciais de decifração que são a priori, realmente. Não que esteja lá a palavra MESA, mas há lá dentro a capacidade de, EM CONFRONTAÇÃO COM O REAL, manipulá-lo, de conjugá-lo, de cooptá-lo em seqüências de decodificação. Lá dentro não estão as palavras e imagens do dicionárioenciclopédico, mas sim a competência ao emparelhamento em qualquer língua e realidade que seja.

                            Posta em pessoambientes ingleses a mente decifra as pessoas e ambientes de lá. Posta em cenários brasileiros, a língua portuguesa e os virturreais daqui. Transportada ao Planeta X de Alfacentauri ela falaria todas as línguas X (i), infalivelmente. Enfim, as mentes são CIRCUITOS DECIFRADORES universalmente válidos. Aceitam qualquer língua PORQUE aceitam por trás dela a dialógica, lógica-dialética monodual, direto-relacional implícita no ADRN, que por sua vez é obediência à construção matemática ou geo-algébrica do universo. Cada mente é, postas as diferenças de grau, um de-cifrador ou des-criptador universal GA. E é porisso mesmo que pensamentos e experiências podem ser refletidos e repensados por todos e cada um, com maior ou menor dificuldade. A mente é um resolvedor de problemas, inclusive a daquela criancinha. Não é atoa que o primeiro falar é recebido com manifestações de alegria por pais e mães, como verdadeiro índice de humanização.

                            Vitória, terça-feira, 10 de dezembro de 2002.

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