terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Sufocamento

 

                            No livro de Paul Kennedy, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993, original americano do mesmo ano, p. 23, ele diz: “Os cidadãos das sociedades ricas têm um vislumbre da pobreza na qual milhões são obrigados a viver através de programas da televisão sobre a fome na (digamos) Etiópia, ou das fotos da National Geographic Magazine sobre as favelas da América Latina: a paisagem angustiante, a miséria, os membros delgados, os sinais de doença e, acima de tudo, os milhares e milhares de crianças pequenas. Se essa visão é dolorosa hoje, como será quando essas regiões tiverem três vezes mais seres humanos que hoje?”

                            Bom, no ano zero, quando os romanos eram adiantados e os ingleses, franceses, espanhóis, alemães, portugueses eram atrasados, imagino que os romanos, olhando os bárbaros, ficavam preocupadíssimos com o ritmo de expansão populacional deles. Como fariam eles para, no futuro, alimentar tantas pessoas famintas, se suas economias eram tão atrasadas e deficientes de tudo que fosse civilizado? Para os romanos e os gregos melhor seria cancelar, jogar fora aqueles povos barbados, sujos, mal-vestidos, defenestrá-los da face da Terra, apagá-los completamente. Entrementes, como sabemos, os povos anglo-saxões, os nórdicos, os latinos não-romanos, os eslavos, e seus descendentes deram contribuições inapreciáveis à civilização humana. Conhecendo o futuro do ano zero nós jogaríamos fora aqueles povos só porque eram então sub-desenvolvidos? Obviamente, não.

                            Do mesmo modo com os povos de agora: quantas contribuições eles ainda poderão dar? Se agora ainda não deram tudo de si é porque o modelo que é oferecido não é o melhor para a manifestação de seu potencial. Logo quando encontrem a formestrutura mais expressiva, muito farão.

                          Os povos desenvolvidos estão sufocados, hoje? É preciso pensar que novas soluções serão encontradas, bastando ter amor. Como disse Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, isto é, ao modo divino, de Deus, que é o mais largo possível, o que dá maior abertura para todos os fazeres.

                            Quando houver três vezes tanto quanto, ou mesmo três vezes mais, quatro vezes tanto quanto, as soluções também serão potencializadas extraordinariamente, de modos que hoje desconhecemos. Como o petróleo foi descoberto, e a energia atômica, e a fotoconversão, e as hidrelétricas, e o a expansão do uso do carvão a níveis literalmente estratosféricos, e tantos outros modos. E a produção de alimentos, de roupas, de carros, de tantos milhões de coisas que no ano zero desconheciam, e foram justamente resultado do trabalho diligente e dos incomensuráveis esforços daquela gente desprezada de então, que Cristo abraçou em seu grande projeto.

                            Não travemos os outros. Não os sufoquemos com o nosso medo, não cortemos seus projetos de futuro com nossos receios de que não haja para todos. O universo É GRANDE, muito mais do que a humanidade pode algum dia imaginar, e nele há muitas mansões de MEU PAI, como disse Jesus. Não devemos sufocar os outros com nossos anseios, nossos temores, com o que ainda não aconteceu, com o nosso pavor de não encontrarmos as soluções para os problemas. Havendo abertura e amor, tudo dará certo, crede.

                            Vitória, domingo, 27 de outubro de 2002.

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