Sufocamento
No
livro de Paul Kennedy, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro,
Campus, 1993, original americano do mesmo ano, p. 23, ele diz: “Os cidadãos das
sociedades ricas têm um vislumbre da pobreza na qual milhões são obrigados a
viver através de programas da televisão sobre a fome na (digamos) Etiópia, ou
das fotos da National Geographic Magazine sobre as favelas da América Latina: a
paisagem angustiante, a miséria, os membros delgados, os sinais de doença e,
acima de tudo, os milhares e milhares de crianças pequenas. Se essa visão é
dolorosa hoje, como será quando essas regiões tiverem três vezes mais seres
humanos que hoje?”
Bom,
no ano zero, quando os romanos eram adiantados e os ingleses, franceses,
espanhóis, alemães, portugueses eram atrasados, imagino que os romanos, olhando
os bárbaros, ficavam preocupadíssimos com o ritmo de expansão populacional
deles. Como fariam eles para, no futuro, alimentar tantas pessoas famintas, se
suas economias eram tão atrasadas e deficientes de tudo que fosse civilizado?
Para os romanos e os gregos melhor seria cancelar, jogar fora aqueles povos
barbados, sujos, mal-vestidos, defenestrá-los da face da Terra, apagá-los
completamente. Entrementes, como sabemos, os povos anglo-saxões, os nórdicos, os
latinos não-romanos, os eslavos, e seus descendentes deram contribuições
inapreciáveis à civilização humana. Conhecendo o futuro do ano zero nós
jogaríamos fora aqueles povos só porque eram então sub-desenvolvidos?
Obviamente, não.
Do
mesmo modo com os povos de agora: quantas contribuições eles ainda poderão dar?
Se agora ainda não deram tudo de si é porque o modelo que é oferecido não é o
melhor para a manifestação de seu potencial. Logo quando encontrem a
formestrutura mais expressiva, muito farão.
Os
povos desenvolvidos estão sufocados, hoje? É preciso pensar que novas soluções
serão encontradas, bastando ter amor. Como disse Jesus: “amai-vos uns aos
outros como eu vos amei”, isto é, ao modo divino, de Deus, que é o mais largo
possível, o que dá maior abertura para todos os fazeres.
Quando
houver três vezes tanto quanto, ou mesmo três vezes mais, quatro vezes tanto
quanto, as soluções também serão potencializadas extraordinariamente, de modos que
hoje desconhecemos. Como o petróleo foi descoberto, e a energia atômica, e a
fotoconversão, e as hidrelétricas, e o a expansão do uso do carvão a níveis
literalmente estratosféricos, e tantos outros modos. E a produção de alimentos,
de roupas, de carros, de tantos milhões de coisas que no ano zero desconheciam,
e foram justamente resultado do trabalho diligente e dos incomensuráveis
esforços daquela gente desprezada de então, que Cristo abraçou em seu grande
projeto.
Não
travemos os outros. Não os sufoquemos com o nosso medo, não cortemos seus
projetos de futuro com nossos receios de que não haja para todos. O universo É
GRANDE, muito mais do que a humanidade pode algum dia imaginar, e nele há
muitas mansões de MEU PAI, como disse Jesus. Não devemos sufocar os outros com
nossos anseios, nossos temores, com o que ainda não aconteceu, com o nosso
pavor de não encontrarmos as soluções para os problemas. Havendo abertura e
amor, tudo dará certo, crede.
Vitória,
domingo, 27 de outubro de 2002.
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