domingo, 15 de janeiro de 2017


Rejuvenescimento

 

                            Diferentemente do artigo deste Livro 16, Pelo Contrário, neste seria tomada uma mulher (porque as mulheres são, nesta conjuntura socioeconômica, mais sensíveis ao envelhecimento), que começaria velha, enrugada, sábia e constituída e iria remoçando a cada dia, aceleradamente.

                            Primeiro, em uma quarta parte do filme ela é mostrada como matriarca da família, com uma série de prerrogativas e direitos firmemente estabelecidos, com todo mundo em volta venerando-a. Certo dia ela começa a perceber que as rugas, pintas e pelancas da idade estão começando a desaparecer. Com isso também várias coisas que estavam na casa (o que só o espectador vai perceber, frisando-se antes, como se faz usualmente), ninguém em volta dando pela falta.

                            Um dia um neto desaparece, a filha ou nora fica grávida, perde a barriga, um dia sai de casa, separa do genro ou do filho. Sem perceber nada a satisfação da antigamente velha senhora só faz aumentar, na medida em que ela pode andar com mais celeridade, tira os óculos dos olhos antes míopes, compra vestidos mais ousados (como são de seu futuro não seriam necessariamente rococós), passa baton, os filhos e filhas vão remoçando, des-nascem, ela mesma descasa, volta para a casa do pai e da mãe. No fim os espectadores compreenderão quanto esse supostamente desejado remoçamento pode ser prejudicial.

                            Como a soma é zero, com as verrugas, pelancas, pintas e demais dificuldades vem o outro lado, a sabedoria, o maior alcance da visão mental, a compreensão alargada. Com as dores do parto contínuo da Vida racional vem os prêmios, de ter criado uma família, de ter feito um esforço nobre de ajudar o próximo, e assim por diante.

                            Vitória, terça-feira, 10 de dezembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário