domingo, 15 de janeiro de 2017


Pressupostos Etnocentristas

 

                            Em seu livro, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993, Paul Kennedy diz à página 24: “Vejam-se, por exemplo, as pressões que recairão sobre os sistemas já inadequados (ou inexistentes) de habitação, higiene, transportes, distribuição de alimentos e comunicações dessas cidades se as suas populações duplicarem ou triplicarem. Em muitos desses países uma parcela desproporcional da limitada riqueza nacional é propriedade das elites governantes, que terão dificuldades em apaziguar os descontentes das massas urbanas que viverão nessas novas megacidades. Não é claro como essas enormes populações serão alimentadas, em especial nas épocas de penúria, e o que acontecerá com a relação sempre delicada entre a cidade e o campo”.

                            Para dar um distanciamento, vamos imaginar que seja a Terra inteira, e vamos reler em maiúsculas o período todo (como se fosse um relatório de um enviado alienígena buscando saber se a vida racional terrestre deve ou não ser eliminada).

                            VEJAM-SE, POR EXEMPLO, AS PRESSÕES QUE RECAIRÃO SOBRE OS SISTEMAS TERRESTRES JÁ INADEQUADOS (OU INEXISTENTES) DE HABITAÇÃO, HIGIENE, TRANSPORTES, DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS E COMUNICAÇÕES DESSES PAÍSES SE A SUA POPULAÇÕE DUPLICAR OU TRIPLICAR. EM MUITOS DESSES PLANETAS UMA PARCELA DESPROPORCIONAL DA LIMITADA RIQUEZA MUNDIAL É PROPRIEDADE DAS ELITES GOVERNANTES, QUE TERÃO DIFICULDADES EM APAZIGUAR OS DESCONTENTES DAS MASSAS ESTADUAIS QUE VIVERÃO NESSAS NOVAS MEGARREGIÕES. NÃO É CLARO COMO ESSAS ENORMES POPULAÇÕES SERÃO ALIMENTADAS, EM ESPECIAL NAS ÉPOCAS DE PENÚRIA, E O QUE ACONTECERÁ COM A RELAÇÃO SEMPRE DELICADA ENTRE A CIDADE E O CAMPO.

                            Veja que em cada caso só fiz subir um degrau.

                            Pois o mundo-Terra, sob as vistas galáticas, é paupérrimo, muito atrasado e primitivo. Deveríamos descartar a Terra, só porque ela é assim? Não, ela se desenvolverá notavelmente, é a nossa confiança.

                            O modo euro-americano é o único que dará certo? As possibilidades dialógicas do universo são muito amplas, incomensuravelmente variadas, desde que se adote as posturas corretas, que não fecham a avenida em beco-sem-saída.

                            Veja só, esse Kennedy, neo-malthusiano disfarçado, e outros como ele estão condenando todo um futuro em nome de um passado já acabado, como os nazistas alemães e os fascistas italianos e japoneses quiseram fazer com os judeus e vários povos europeus, e o Japão ainda faz com os ainos e a Índia ainda faz com as castas “impuras”. Os condenados são sempre OS OUTROS, que Cristo mandou amar.

                            Há só um jeito de fazer um vaso? Milhares de tipos e milhões de formas de vasos e vasilhas feitas através de toda a geo-história provam que não, absolutamente não. Podemos encontrar milhares de caminhos desde as folhas pelo mesmo tronco até as raízes dos problemas e de volta para novas construções. As árvores não são inumeráveis em espécie e forma?

                            Porque a duplicação e a triplicação das populações seriam um impedimento? A população dos EUA não duplicou nem triplicou, multiplicou por 270, se contarmos a partir de um milhão. Que pai ou mãe mataria alguns filhos sem lhes dar chance de tentar a vida de modo diferente alhures?

                           Veja que o fascismo malthusiano está voltando. O Kennedy é apenas um dos anúncios.

                            Vitória, terça-feira, 10 de dezembro de 2002.

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