Pelo Contrário
Imaginei
uma situação na qual em certo dia um grupo grande iria ao cemitério e tiraria
da cova um avô, o levaria para ser velado numa igreja, de lá até em casa, onde
ele ressuscitaria, voltando a conviver com a família e remoçando cada vez mais,
recuperando-se das dificuldades de falar, de ver, de andar, até entrar
plenamente na força de trabalho, ao passo que netos entrariam nas barrigas das
filhas ou noras, todos sempre ficando mais jovens.
Tudo
seria ao contrário.
Aqui
chamaríamos a atenção das pessoas para o fato de que um bebê, quando nasce,
está sendo tirado da morte, passa a fazer parte da Vida racional geral.
Apelando
a essa coisa às avessas poderíamos raciocinar sobre nossas existências pelo
contrário, espelharmente. Talvez víssemos alguns de nossos erros, que não
enxergamos diretamente, olhando de frente, quando somos capazes de o fazer. As
pessoas descasariam, desencontrariam, des-namorariam, des-juntariam de um modo
geral. Um certo dia desaprenderiam o que soubessem e seriam despedidas da
fábrica, retornando à escola para desaprender progressivamente tudo. Seria um
exercício interessante e deve ser feito com muito cuidado, pensado bem
demoradamente, para não haver falhas.
Vitória,
terça-feira, 10 de dezembro de 2002.
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