domingo, 15 de janeiro de 2017


Pelo Contrário

 

                            Imaginei uma situação na qual em certo dia um grupo grande iria ao cemitério e tiraria da cova um avô, o levaria para ser velado numa igreja, de lá até em casa, onde ele ressuscitaria, voltando a conviver com a família e remoçando cada vez mais, recuperando-se das dificuldades de falar, de ver, de andar, até entrar plenamente na força de trabalho, ao passo que netos entrariam nas barrigas das filhas ou noras, todos sempre ficando mais jovens.

                            Tudo seria ao contrário.

                            Aqui chamaríamos a atenção das pessoas para o fato de que um bebê, quando nasce, está sendo tirado da morte, passa a fazer parte da Vida racional geral.

                            Apelando a essa coisa às avessas poderíamos raciocinar sobre nossas existências pelo contrário, espelharmente. Talvez víssemos alguns de nossos erros, que não enxergamos diretamente, olhando de frente, quando somos capazes de o fazer. As pessoas descasariam, desencontrariam, des-namorariam, des-juntariam de um modo geral. Um certo dia desaprenderiam o que soubessem e seriam despedidas da fábrica, retornando à escola para desaprender progressivamente tudo. Seria um exercício interessante e deve ser feito com muito cuidado, pensado bem demoradamente, para não haver falhas.

                            Vitória, terça-feira, 10 de dezembro de 2002.

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