Os Prêmios da
Natureza
Quando a gente vai a
supermercados fazer todas aquelas compras que enchem carrinhos devemos
selecionar os produtos nas gôndolas, colocá-los nos carros, levá-los ao caixa,
passá-los na esteira, transportar para o automóvel, se for o caso, tirá-los em
casa, subir no elevador, se for o caso, ou pagar o transporte, ou recebê-lo
como gratuidade, chegar em casa e guardar. Depois preparar os alimentos, servir
à mesa, recolher, limpar as vasilhas, guardar os restos na geladeira. E isso indefinidamente,
na vida das crianças 20 anos, continuando pais e mães desde o casamento aos
vinte ou vinte e poucos anos até 40 ou 50 anos depois, mês após mês. E vai à
feira, e compra flores, cama, mesa e banho; e limpa a casa, e repara roupas, e
corta cabelo.
Quando pensamos no
trabalho que as crianças dão o casamento passa a ser muito menos interessante.
Mas, como raciocinei sobre o bebê mais apto, os adolescentes e os jovens
adultos têm lá seu charme, que os conserva vivos e prósperos frente aos perigos
de uma espécie profundamente daninha e perigosa, a nossa. São adoráveis os
filhos e as filhas.
Bom, se os
adolescentes raciocinassem sobre o casamento, se pensassem em tudo que é
preciso fazer para sustentar os filhos (um, dois, cinco, dez, ou quinze, como
nos casamentos antigos) certamente não casariam. Aí vem a sabedoria da
Natureza, porque o que torna a humanidade próspera é a capacidade de previsão
ou os raciocínios sobre linhas de probabilidade ou futuro. O ser humano foi
preparado para raciocinar sobre o futuro. Então, como é que os jovens seres
humanos, moças e rapazes, NÃO RACIOCINAM? Veja que estão na idade mais fecunda,
mais produtiva de todas, em que o raciocínio é mais rápido e potente, pois há
tanto a perceber para a entrada no mercado de trabalho, depois da infância
protegida. Não obstante, embora estejam preparadíssimos e seja do maior
interesse raciocinar sobre esse passo, NÃO RACIOCINAM. Efetivamente, não o
fazem.
Ora, por quê seria
assim? É assim porque a Natureza tem interesse extremo na fusão e produção de
descendência a qualquer custo. Porisso ela preparou armadilhas que suprimem a
mente, que fazem retornar ao corpo, ao irracional, mergulhando-nos na aventura
e no imponderável, fazendo-nos aceitar coisas que em geral recusaríamos ou iríamos
aceitar só com recompensas. Nós casamos. Os prêmios da Natureza são do gênero
dos gozos físicos/químicos, biológicos/p.2 e psicológicos/p.3, seja o sexual,
seja o alimentar, seja a segurança, seja o sentido de posse e domínio – o que
não foi amplamente estudado. Se fosse o conhecimento obtido teria tremendas
implicações para a Economia.
Que tipos de prêmio
são esses?
São variadíssimos e
como em tudo o modelo pode ajudar a organizar. A começar pela Bandeira da
Proteção, oferece lar, armazenamento, segurança, saúde e transportes. Provê
alteamento na mesopirâmide (PESSOAS: indivíduo, família, grupo, empresa;
AMBIENTES: município/cidade, estado, nação, mundo). Oferece acumulação de
riqueza, proeminência, sonhos de consumo, aceitabilidade. Como é que a natureza
biológica/p.2 e a natureza psicológica/p.3 premiam os sujeitos? O que elas nos
dão para obter o que desejam?
O fato é que antes
há um garoto e uma garota, completamente livres, sem compromissos, sem peias, e
depois de alguns anos de transição lá vemos um casal cheio de problemas. Como
diz a definição de esposa (ou marido): “é uma pessoa que você arranja para
ajudar a resolver os problemas que não teria se não tivesse casado”. A gente
pega uma tonelada de confusões – a troco de quê?
Vitória, terça-feira,
14 de janeiro de 2003.
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