terça-feira, 24 de janeiro de 2017


Os Prêmios da Natureza

 

                            Quando a gente vai a supermercados fazer todas aquelas compras que enchem carrinhos devemos selecionar os produtos nas gôndolas, colocá-los nos carros, levá-los ao caixa, passá-los na esteira, transportar para o automóvel, se for o caso, tirá-los em casa, subir no elevador, se for o caso, ou pagar o transporte, ou recebê-lo como gratuidade, chegar em casa e guardar. Depois preparar os alimentos, servir à mesa, recolher, limpar as vasilhas, guardar os restos na geladeira. E isso indefinidamente, na vida das crianças 20 anos, continuando pais e mães desde o casamento aos vinte ou vinte e poucos anos até 40 ou 50 anos depois, mês após mês. E vai à feira, e compra flores, cama, mesa e banho; e limpa a casa, e repara roupas, e corta cabelo.

                            Quando pensamos no trabalho que as crianças dão o casamento passa a ser muito menos interessante. Mas, como raciocinei sobre o bebê mais apto, os adolescentes e os jovens adultos têm lá seu charme, que os conserva vivos e prósperos frente aos perigos de uma espécie profundamente daninha e perigosa, a nossa. São adoráveis os filhos e as filhas.

                            Bom, se os adolescentes raciocinassem sobre o casamento, se pensassem em tudo que é preciso fazer para sustentar os filhos (um, dois, cinco, dez, ou quinze, como nos casamentos antigos) certamente não casariam. Aí vem a sabedoria da Natureza, porque o que torna a humanidade próspera é a capacidade de previsão ou os raciocínios sobre linhas de probabilidade ou futuro. O ser humano foi preparado para raciocinar sobre o futuro. Então, como é que os jovens seres humanos, moças e rapazes, NÃO RACIOCINAM? Veja que estão na idade mais fecunda, mais produtiva de todas, em que o raciocínio é mais rápido e potente, pois há tanto a perceber para a entrada no mercado de trabalho, depois da infância protegida. Não obstante, embora estejam preparadíssimos e seja do maior interesse raciocinar sobre esse passo, NÃO RACIOCINAM. Efetivamente, não o fazem.

                            Ora, por quê seria assim? É assim porque a Natureza tem interesse extremo na fusão e produção de descendência a qualquer custo. Porisso ela preparou armadilhas que suprimem a mente, que fazem retornar ao corpo, ao irracional, mergulhando-nos na aventura e no imponderável, fazendo-nos aceitar coisas que em geral recusaríamos ou iríamos aceitar só com recompensas. Nós casamos. Os prêmios da Natureza são do gênero dos gozos físicos/químicos, biológicos/p.2 e psicológicos/p.3, seja o sexual, seja o alimentar, seja a segurança, seja o sentido de posse e domínio – o que não foi amplamente estudado. Se fosse o conhecimento obtido teria tremendas implicações para a Economia.

                            Que tipos de prêmio são esses?

                            São variadíssimos e como em tudo o modelo pode ajudar a organizar. A começar pela Bandeira da Proteção, oferece lar, armazenamento, segurança, saúde e transportes. Provê alteamento na mesopirâmide (PESSOAS: indivíduo, família, grupo, empresa; AMBIENTES: município/cidade, estado, nação, mundo). Oferece acumulação de riqueza, proeminência, sonhos de consumo, aceitabilidade. Como é que a natureza biológica/p.2 e a natureza psicológica/p.3 premiam os sujeitos? O que elas nos dão para obter o que desejam?

                            O fato é que antes há um garoto e uma garota, completamente livres, sem compromissos, sem peias, e depois de alguns anos de transição lá vemos um casal cheio de problemas. Como diz a definição de esposa (ou marido): “é uma pessoa que você arranja para ajudar a resolver os problemas que não teria se não tivesse casado”. A gente pega uma tonelada de confusões – a troco de quê?
                            Vitória, terça-feira, 14 de janeiro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário