terça-feira, 10 de janeiro de 2017


O Tamanho do Poder

 

                            Por incrível que pareça acho que ninguém fez essa pergunta, pelo menos que eu tenha ouvido ou lido: como medir o poder?

                            Bom a resposta, uma vez que tenhamos feito a pergunta, é simples: o não-poder é uma ausência, absoluta como a pobreza, o não-ter, como a não-liberdade, o desamor – é-se pobre daquilo. É-se pobre de poder, como se pode ser rico. Portanto, a questão é perguntar sucessivamente: posso isso? Posso comprar um carro agora? Posso ir à Grécia? Posso comprar um presente para um amigo? Pode ordenar que façam um vale de 200 km? Pela sucessão de perguntas mediríamos o poder, através do não-poder. Todo mundo (exceto Deus, por definição) não-pode algo. Poder nem tem antônimo no Houaiss eletrônico.

                            Esse é o acesso prático.

                            E o teórico?

                            Está no dicionário: “ter a faculdade ou a possibilidade de”, e várias outras. Partamos dessa palavra, FACULDADE, capacidade, competência. Suponhamos o presidente da República: quanto ele pode? O poder dele depende de aceitação, isto é, é do ambiente, é cargo, é alguém estar encarregado. Qualquer pessoa, estando no cargo, pode, mas fora dele nada poderia, porque existem mais de cento e setenta milhões de brasileiros em 2002 que não podem, exceto o presidente. Mas todo e qualquer um que estivesse lá poderia – não depende da figura. Vejamos as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundo); elas podem porque assumem os valores de conjuntos cada vez maiores. Então ENCARNAM O PODER, o assumem, mas ele não é delas, é do conjunto. Ficou sendo provisoriamente dela por transferência, por acordo. Daí que, na realidade, nenhum ser humano TENHA O PODER, cada um ESTÁ NO PODER, exceto Deus, por definição. Ninguém É presidente, ESTÁ presidente, como Eduardo Portela disse outrora (“estou ministro”). Vemos que teoricamente o poder não existe, exceto o de Deus, por definição. Ele existe na prática e deve ser aproveitado enquanto tal, como a riqueza, a liberdade, o amor e outros relativos. Deve-se aproveitar ao máximo, segundo a segundo, porque passa. A pobreza, a não-liberdade, o não-poder, esses, sim, são para sempre, são absolutos. Se alguém NÃO PÔDE algo, então aquele espaçotempo do não-poder é absoluto, existe na eternidade. Isso deveria ensinar humildade às pessoas.
                            Vitória, quarta-feira, 27 de novembro de 2002.

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