O Tamanho do Poder
Por
incrível que pareça acho que ninguém fez essa pergunta, pelo menos que eu tenha
ouvido ou lido: como medir o poder?
Bom
a resposta, uma vez que tenhamos feito a pergunta, é simples: o não-poder é uma ausência, absoluta como a pobreza,
o não-ter, como a não-liberdade, o desamor – é-se pobre daquilo. É-se pobre de
poder, como se pode ser rico. Portanto, a questão é perguntar sucessivamente:
posso isso? Posso comprar um carro agora? Posso ir à Grécia? Posso comprar um
presente para um amigo? Pode ordenar que façam um vale de 200 km? Pela sucessão
de perguntas mediríamos o poder, através do não-poder. Todo mundo (exceto Deus,
por definição) não-pode algo. Poder nem tem antônimo no Houaiss eletrônico.
Esse
é o acesso prático.
E
o teórico?
Está
no dicionário: “ter a faculdade ou a possibilidade de”, e várias outras.
Partamos dessa palavra, FACULDADE, capacidade, competência. Suponhamos o
presidente da República: quanto ele pode? O poder dele depende de aceitação,
isto é, é do ambiente, é cargo, é alguém estar encarregado. Qualquer pessoa,
estando no cargo, pode, mas fora dele nada poderia, porque existem mais de
cento e setenta milhões de brasileiros em 2002 que não podem, exceto o
presidente. Mas todo e qualquer um que estivesse lá poderia – não depende da
figura. Vejamos as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes
(municípios/cidades, estados, nações, mundo); elas podem porque assumem os
valores de conjuntos cada vez maiores. Então ENCARNAM O PODER, o assumem, mas
ele não é delas, é do conjunto. Ficou sendo provisoriamente dela por
transferência, por acordo. Daí que, na realidade, nenhum ser humano TENHA O
PODER, cada um ESTÁ NO PODER, exceto Deus, por definição. Ninguém É presidente,
ESTÁ presidente, como Eduardo Portela disse outrora (“estou ministro”). Vemos
que teoricamente o poder não existe, exceto o de Deus, por definição. Ele
existe na prática e deve ser aproveitado enquanto tal, como a riqueza, a
liberdade, o amor e outros relativos. Deve-se aproveitar ao máximo, segundo a
segundo, porque passa. A pobreza, a não-liberdade, o não-poder, esses, sim, são
para sempre, são absolutos. Se alguém NÃO PÔDE algo, então aquele espaçotempo
do não-poder é absoluto, existe na eternidade. Isso deveria ensinar humildade às
pessoas.
Vitória, quarta-feira, 27 de novembro de
2002.
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