quarta-feira, 18 de janeiro de 2017


O Tamanho de Calvino

 

                            No livro História da Filosofia, Porto, Porto Editora, talvez 1988, p. 75, o autor, Manuel dos Santos Alves coloca de Calvino o seguinte: “CALVINO, João (1509-1564), reformador francês; a sua obra principal é Institutiones christianae religious (’Instituições da religião cristã’). Segundo ele, após o pecado, a natureza fica corrupta e a razão obscurecida”, itálico no original, colorido meu.

                            Nessas quatro linhas cabe o reformador Jean Cauvin ou Calvin, origem do Calvinismo, que realizou a chamada “segunda reforma”, criando uma facção no protestantismo que dividiu a religião no Ocidente. Não sou particularmente fã dele, pelo contrário, creio que ele, Lutero, Zwingli e outros em lugar de lutar para consertar o que já existe, optaram por sair e colocar uma placa de Sob Nova Direção, abrindo numerosas dissensões. Aquilo veio dar nisso de cada pastorzinho se achar no direito de ser CHEFE DA IGREJA, multiplicando no mundo todo milhar de seitas que só fazem zombar do cristianismo, como uma coisa sem direção central. Ora, Cristo disse, se a Bíblia conta corretamente: “Pedro, eu te farei chefe da MINHA Igreja”, o que quer dizer uma só, e não cem ou mil. Então, se segue que cada chefete desses quer substituir Pedro, contrariando as ordens expressas de Jesus.

                            No Fisco, como em toda parte, o governo federal nos ofereceu a chance de jogar fora o passado, de abolir todos os tributos, concentrando tudo num só, o IMF (Imposto sobre Movimentação Financeira, ou como iam chamá-lo, nem lembro), agora a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, que virou permanente), mas não o fizemos. Nos recusamos a isso. Continuamos a perder sucessivas batalhas, sabendo que vamos vencer adiante. É preferível assim que renunciar a tudo, jogar o passado no cesto do lixo, esquecer nossa herança de memória.

                            No final foi isso que Lutero e todos os outros antes e depois dele fizeram, em lugar de lutar para purificar. Tomaram o caminho mais fácil e eu não gosto deles nem um pouquinho. Não foram verdadeiros lutadores e heróis, tomaram o caminho largo da rejeição, como filho que sai de casa porque não aprova o pai ou mãe, ou pessoa que larga sua empresa, se é possível continuar dentro dela, por discordar deste ou daquele ponto de vista. É antidemocrático, não pressupõe o debate.

                            Calvino NÃO É, para mim, um herói, nem nenhum daqueles como ele. Heróicos foram os que ficaram e lutaram para dar fim às bandalheiras. Ele e outros como ele não tem lugar na minha predileção. Entrementes, É ERRADO não dar a dimensão correta às pessoas. Neste caso, Calvino, como marco zero do calvinismo, foi objeto de centenas ou mesmo milhares de livros de biografia e interpretações e isso deve ser respeitado, mesmo se o livro de Alves é pequeno para contar a história inteira da Filosofia. Ainda que o espaço justifique tal compressão, o respeito é devido.

                            Vitória, domingo, 22 de dezembro de 2002.

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