O Tamanho de Calvino
No livro História da Filosofia, Porto, Porto
Editora, talvez 1988, p. 75, o autor, Manuel dos Santos Alves coloca de Calvino
o seguinte: “CALVINO,
João (1509-1564), reformador francês; a sua obra principal é Institutiones christianae religious
(’Instituições da religião cristã’). Segundo ele, após o pecado, a natureza
fica corrupta e a razão obscurecida”, itálico no original, colorido
meu.
Nessas quatro linhas
cabe o reformador Jean Cauvin ou Calvin, origem do Calvinismo, que realizou a
chamada “segunda reforma”, criando uma facção no protestantismo que dividiu a
religião no Ocidente. Não sou particularmente fã dele, pelo contrário, creio
que ele, Lutero, Zwingli e outros em lugar de lutar para consertar o que já
existe, optaram por sair e colocar uma placa de Sob Nova Direção, abrindo
numerosas dissensões. Aquilo veio dar nisso de cada pastorzinho se achar no
direito de ser CHEFE DA IGREJA, multiplicando no mundo todo milhar de seitas
que só fazem zombar do cristianismo, como uma coisa sem direção central. Ora,
Cristo disse, se a Bíblia conta corretamente: “Pedro, eu te farei chefe da
MINHA Igreja”, o que quer dizer uma só, e não cem ou mil. Então, se segue que
cada chefete desses quer substituir Pedro, contrariando as ordens expressas de
Jesus.
No Fisco, como em
toda parte, o governo federal nos ofereceu a chance de jogar fora o passado, de
abolir todos os tributos, concentrando tudo num só, o IMF (Imposto sobre
Movimentação Financeira, ou como iam chamá-lo, nem lembro), agora a CPMF
(Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, que virou permanente),
mas não o fizemos. Nos recusamos a isso. Continuamos a perder sucessivas
batalhas, sabendo que vamos vencer adiante. É preferível assim que renunciar a
tudo, jogar o passado no cesto do lixo, esquecer nossa herança de memória.
No final foi isso
que Lutero e todos os outros antes e depois dele fizeram, em lugar de lutar
para purificar. Tomaram o caminho mais fácil e eu não gosto deles nem um pouquinho.
Não foram verdadeiros lutadores e heróis, tomaram o caminho largo da rejeição,
como filho que sai de casa porque não aprova o pai ou mãe, ou pessoa que larga
sua empresa, se é possível continuar dentro dela, por discordar deste ou
daquele ponto de vista. É antidemocrático, não pressupõe o debate.
Calvino NÃO É, para
mim, um herói, nem nenhum daqueles como ele. Heróicos foram os que ficaram e
lutaram para dar fim às bandalheiras. Ele e outros como ele não tem lugar na
minha predileção. Entrementes, É ERRADO não dar a dimensão correta às pessoas.
Neste caso, Calvino, como marco zero do calvinismo, foi objeto de centenas ou
mesmo milhares de livros de biografia e interpretações e isso deve ser
respeitado, mesmo se o livro de Alves é pequeno para contar a história inteira
da Filosofia. Ainda que o espaço justifique tal compressão, o respeito é
devido.
Vitória, domingo, 22
de dezembro de 2002.
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