sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


O Futuro do Cérebro

 

                            Num programa de TV ouvi a pessoa perguntando para quê o cérebro humano foi projetado com tanta folga (de memória, inteligência e controle, nos termos do modelo).

                            Bom, eu digo, é para enfrentar o futuro.

                            Aliás, poderíamos estabelecer um índice de racionalidade com base na capacidade de previsão do ser racional. Quanto mais “futurível” (futurabilidade, capacidade de prever o futuro. Não aquela coisa do Instituto Hudson e de Herman Kahn, que é a futurologia, estudos práticos, supostamente teóricos, sobre o futuro, mas essa capacidade artificial que todos temos de projetar, de induzir sobre o amanhã) é um conjunto mais apto ele está a chegar ao futuro e a assumir frações crescentes do cenário para si e para os seus parasitas.

                            Podemos prever que o Sol continuará aí, que o pai e mãe não fugirão (quando mães se ausentam crianças pequenas ficam enlouquecidas), podemos prever uma quantidade incrível de coisas, com maior ou menor precisão. Claro que os economistas erram, não se foi Samuelson que disse que eles tinham previsto NOVE das últimas DUAS crises americanas. Os economistas erram com uma freqüência incrível, mas é porque a Psicologia (outra coisa não é a Economia) de que eles tratam é complexa demais.

                            Então, o cérebro se tornou racional não apenas quando começou a estabelecer laços comunitários crescentes, mas também quando foi capaz de prever um punhado de coisas sobre o amanhã ou o depois de amanhã. Podemos prever que por mais que as roupas mudem elas não serão abandonadas por bastante tempo.

                            O cérebro mais racional é o mais preditivo. Foi, é e continuará a ser assim, quanto mais embrenhemos na terceira natureza, a informacional/p.4. O cérebro humano não parou de evoluir 200 mil ou 50 mil anos atrás – ele continua a evoluir.

                            Só não é mais evolução natural, biológica/p.2, e sim artificial, psicológica/p.3, nas PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo). Empresas mais preditivas suplantarão as demais. Os conjuntos que conseguem se antecipar avançam mais rapidamente no jogo-de-papéis (com ações), no empréstimo de dinheiro, na construção de casas à beira-mar (mas não tão perto que uma onda ou ressaca de maré venha e destrua tudo) ou em encostas travadas com árvores e grama para não haver deslizamentos de terra nas enchentes. E assim por diante, tanto para pessoas quanto para ambientes.

                            QUÃO LONGE consegue mirar a memória/inteligência/controle é que nos diz do potencial de sobrevivência e seleção de um qualquer conjunto, sendo isso que a Natureza mira.

                            Então, olhe à sua volta e liste a capacidade preditiva de cada conjunto, seja pessoal seja ambiental, desde universidades a farmácias, de jornais a agropecuárias, de feirantes a casais que vão ter filhos, de nações a produtores de filmes, e veja que a Natureza premia os cérebros capazes de MAIOR INDUÇÃO, que, prevendo, produzem os maiores acertos. Com isso deixam descendência de vetores para o futuro. Ou seja, resumindo tudo, a competição e a seleção artificial psicológica é pela sobrevivência do previsor mais hábil, mais apto, com a conseqüente doação de futuro à sua prole, seja de qual conjunto for.

                            Enfim, busca-se o futuro mais apto.

                            Vitória, domingo, 29 de dezembro de 2002.

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