terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Médico dos Deuses


 

                            Imagine um médico descendo num pontinstante qualquer da geo-história antiga com uma farmácia contemporânea a tiracolo. O tamanho será decidido no decorrer da trama, filme piloto e série, pois se trata de um processo educativo.

                            Aquelas coisas horrorosas que os antigos sofriam, em termos das quatro mil doenças genéticas que segundo Asimov existem, mais as de causas ambientais, como “simples” dores-de-cabeça a serem curadas com Melhoral – de quem o médico trataria primeiro e preferencialmente? Ricos ou pobres? Ele poderia ficar extraordinariamente rico e poderoso, enquanto durasse o estoque.

                            Imagine a aflição do médico à medida que o estoque fosse acabando. Ele sabe aplicar os remédios, mas não confeccionar. Se soubesse, não teria os componentes. Você pode imaginar as lições que podemos tirar disso! Quando terminassem as aspirinas ele aplicaria placebos, que resolveriam para alguns, mas não para todos. Sua fama iria sofrer com isso, os generais o ameaçariam.

                            Como ele faria para proteger a farmácia? A colocaria num bunker? Quem o protegeria? Seria chantageado pelos guardiões? Quanta saudade sentiria de sua coletividade de produçãorganização? Ao júbilo inicial de ter um olho onde todos são cegos sucederia a depressão crescente das ameaças.

                            Constituiria uma lição para as pessoas que pensam que um conhecimento imensamente superior significaria a felicidade. Na realidade seria um motivo a mais de aborrecimento e isolamento, de temor e angústia. Como sempre acontece, à bajulação inicial sobreviria instabilidade emocional diante de todo tipo de pressão. No final, mais provavelmente, o médico estaria reduzido à condição de pária ou desterrado, ou o que os roteiristas achassem mais próximo à verdade.

                            Vitória, terça-feira, 24 de dezembro de 2002.

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