terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Jogando Fora

 

                            Paul Kennedy diz em seu livro, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993, à página 22: “Por exemplo, no continente mais pobre e também em crescimento mais rápido, a África, que conta hoje com cerca de 650 milhões de habitantes, prevê-se (como dissemos antes) que o total aumente em quase três vezes, para 1,58 bilhão, em 2025. Certos estados africanos devem ter, naquele ano, populações que sofreram aumentos enormes – a Nigéria poderia passar de 113 milhões para 301 milhões; o Quênia, de 25 para 77 milhões; a Tanzânia, de 27 para 84 milhões; o Zaire, de 36 para 99 milhões, sem aumentos de recursos correspondentes, na verdade com uma redução de recursos”, itálico no original.

                            Façamos uma comparação.

                            PAÍS                  ÁREA                                            POPULAÇÃO

                                                        (milhões de km2)                       (milhões de habitantes)

                            Brasil                 8,514                                             169,6 (2000)

                            Índia                  3,288                                             1.025,0 (2001)

                            A relação das áreas é B/I (A) = 2,59, enquanto o das populações é de (com estimativa da fonte de dados – Almanaque Abril - de crescimento demográfico de 1,6 % ao ano para o Brasil, 2001 com 172,3 milhões em nosso país) é I/B (P) = 5,95, de modo que o produto é 2,59 x 5,95 = 15,41, em termos de densidade demográfica. A do Brasil menos de 20 habitantes por km2, ao passo que a da índia ultrapassa 300. A população brasileira é mais violenta que a indiana? De modo algum, pelo contrário. As florestas de lá são mais destruídas que as daqui? De jeito nenhum, é o inverso.

                            Ainda me lembro (meus 7 anos foram em 1961) de quando, na década dos 1960, a Índia tinha 350 milhões de habitantes e a China não passava de 600 milhões, é questão de apurar esses dados de memória com datas. Hoje aquela tem TRÊS VEZES tanto quanto antes, ou quase, e a segunda tem duas vezes, ou mais, na realidade mais de 1,3 bilhão de pessoas. Que aconteceu? Os chineses estão passando fome, ainda tendo somado 700 milhões? É o inverso, antes passavam muito mais dificuldades que agora, quando encontraram o chamado Caminho de Duas Vias, combinação local de socialismo e capitalismo à moda chinesa. Na Índia passam fome, sim, porém menos que no Brasil, eu creio, embora não tenha uma avaliação comparativa. Os indianos tornaram-se respeitadíssimos em termos de engenharia de computação e de Física e outras disciplinas avançadas e sabe-se lá o que poderão fazer quando encontrarem seu modo de inserção.

                            São apenas dois exemplos, você poderia consegui-los às centenas, se vasculhasse a geo-história de povos e nações.

                            Só para terminar, um argumento muito mais pesado.

                            Imagine que somos agora umas 220 nações. Que cada uma faça sua própria avaliação se aceitaria ser jogada fora, como querem os malthusianos, os neomalthusianos descendentes deles, e todos os seus parentes fascistas e nazistas. Que se mirem as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo) e pensem quem daria o primeiro passo para, desprezando suas chances de sobrevivência, por mais remotas que fossem, mergulhar no precipício e na terminação. Quem, de livre vontade, se jogaria no não-ser? Então, como é que dos países ditos avançados estão nos jogando fora? Que avanço é esse que desconsidera as oportunidades? Será que essa pessoa não aprendeu nada de geo-história?

                            Vitória, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002.

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