Jogando Fora
Paul
Kennedy diz em seu livro, Preparando
para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993, à página 22: “Por exemplo,
no continente mais pobre e também em crescimento mais rápido, a África, que
conta hoje com cerca de 650 milhões de habitantes, prevê-se (como dissemos
antes) que o total aumente em quase três vezes, para 1,58 bilhão, em 2025.
Certos estados africanos devem ter, naquele ano, populações que sofreram
aumentos enormes – a Nigéria poderia passar de 113 milhões para 301 milhões; o Quênia,
de 25 para 77 milhões; a Tanzânia, de 27 para 84 milhões; o Zaire, de 36 para
99 milhões, sem aumentos de recursos
correspondentes, na verdade com uma redução de recursos”, itálico no original.
Façamos
uma comparação.
PAÍS ÁREA POPULAÇÃO
(milhões
de km2) (milhões de habitantes)
Brasil 8,514 169,6 (2000)
Índia 3,288 1.025,0 (2001)
A
relação das áreas é B/I (A) = 2,59, enquanto o das populações é de (com
estimativa da fonte de dados – Almanaque Abril - de crescimento demográfico de
1,6 % ao ano para o Brasil, 2001 com 172,3 milhões em nosso país) é I/B (P) =
5,95, de modo que o produto é 2,59 x 5,95 = 15,41, em termos de densidade
demográfica. A do Brasil menos de 20 habitantes por km2, ao passo
que a da índia ultrapassa 300. A população brasileira é mais violenta que a
indiana? De modo algum, pelo contrário. As florestas de lá são mais destruídas
que as daqui? De jeito nenhum, é o inverso.
Ainda
me lembro (meus 7 anos foram em 1961) de quando, na década dos 1960, a Índia
tinha 350 milhões de habitantes e a China não passava de 600 milhões, é questão
de apurar esses dados de memória com datas. Hoje aquela tem TRÊS VEZES tanto
quanto antes, ou quase, e a segunda tem duas vezes, ou mais, na realidade mais
de 1,3 bilhão de pessoas. Que aconteceu? Os chineses estão passando fome, ainda
tendo somado 700 milhões? É o inverso, antes passavam muito mais dificuldades
que agora, quando encontraram o chamado Caminho de Duas Vias, combinação local
de socialismo e capitalismo à moda chinesa. Na Índia passam fome, sim, porém
menos que no Brasil, eu creio, embora não tenha uma avaliação comparativa. Os
indianos tornaram-se respeitadíssimos em termos de engenharia de computação e
de Física e outras disciplinas avançadas e sabe-se lá o que poderão fazer
quando encontrarem seu modo de inserção.
São
apenas dois exemplos, você poderia consegui-los às centenas, se vasculhasse a
geo-história de povos e nações.
Só
para terminar, um argumento muito mais pesado.
Imagine
que somos agora umas 220 nações. Que cada uma faça sua própria avaliação se
aceitaria ser jogada fora, como querem os malthusianos, os neomalthusianos
descendentes deles, e todos os seus parentes fascistas e nazistas. Que se mirem
as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes
(municípios/cidades, estados, nações e mundo) e pensem quem daria o primeiro
passo para, desprezando suas chances de sobrevivência, por mais remotas que
fossem, mergulhar no precipício e na terminação. Quem, de livre vontade, se
jogaria no não-ser? Então, como é que dos países ditos avançados estão nos
jogando fora? Que avanço é esse que desconsidera as oportunidades? Será que
essa pessoa não aprendeu nada de geo-história?
Vitória,
quinta-feira, 19 de dezembro de 2002.
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