Formestruturas Hegelianas
No
livro de Bryan Magee, Os Grandes Filósofos, Lisboa, Presença, 1988, que
a Vera Márcia Soares de Toledo me emprestou, o Magee entrevista vários
filósofos contemporâneos que falam de outros, os grandes, entre os quais Hegel,
de que vou falar agoraqui.
Na
passagem que vou citar Singer conversa com Magee. Diz Singer: “Hegel diz que forma e conteúdo estão associados.
(...). A lógica, disse ele, é a ‘verdade sem a casca’, ou seja, a forma eterna, imutável de verdade, independentemente
de um conteúdo histórico particular, embora na realidade esteja sempre ligada a
algum conteúdo”, coloridos meus.
Veja
que Hegel, como vários antes dele (entre os quais Spinoza e Nicolau de Cusa), esteve por fundir formas e conteúdos,
ou imagens e estruturas, ou superfícies e leis, num todo formestrutural que
fugisse da obstrução dos pares polares de opostos/complementares à inteligência
penetrante da humanidade, conseguindo então a fusão, como fiz no modelo.
A
segunda afirmação também é chave importantíssima, porquanto por ela vemos que a
forma é absoluta, não-relativa; que os conteúdos é que são, para todos os
racionais, relativos, ou seja, aproximativos. A verdade é uma relatividade.
Nós nos aproximamos da Verdade final aos poucos, por tentativas e erros, ao
passo que a forma é absoluta desde o início.
Na
Tela Final, onde Deus (o único que consegue chegar lá e ser absoluto,
não-relativo, depois de todo o trânsito racional) está, está também a Verdade,
a definitiva e absoluta Verdade, QUE é a própria forma, pelo outro lado. Em
desenho direto: começamos com as formas enquanto memórias diretas e vamos
compreendendo ou deduzindo as verdades ou conceitos ou conteúdos pela
inteligência, daí chegando (Deus chega) até a Tela Final, donde as formas renascem,
como uma fênix, num fogo abrasador, que é o Big Bang, a Boca Branca, a Grande
Explosão, depois do Grande Estresse. Assim: BB, formas, memórias, conteúdos,
Tela Final, renascimento explosivo.
Se
segue daí que os orientais, preferindo um caminho diverso, enveredaram pelo
lado da forma, ou seja, de perceber os desenhos intuitivamente pela colagem das
formas, por assim dizer, ou seja, pela adequação formal. O Ocidente, ao
contrário, seguiu o caminho da inteligência. Buda, parado e apenas olhando para
dentro de si, viu todo o desenho do Mundo apenas contemplando as formas.
Caminho direto, mas sem a percepção das possibilidades de construção, pois de
fato as formas não têm conteúdo histórico, isto é, não é possível
desenvolvê-las.
Veja você a
potência, a inteligência de Hegel. Infelizmente ele não deu o salto para
produzir o modelo, no que teríamos nos adiantado 200 anos.
Vitória,
segunda-feira, 11 de novembro de 2002.
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