quinta-feira, 5 de janeiro de 2017


Formestruturas Hegelianas

 

                           No livro de Bryan Magee, Os Grandes Filósofos, Lisboa, Presença, 1988, que a Vera Márcia Soares de Toledo me emprestou, o Magee entrevista vários filósofos contemporâneos que falam de outros, os grandes, entre os quais Hegel, de que vou falar agoraqui.

                            Na passagem que vou citar Singer conversa com Magee. Diz Singer: “Hegel diz que forma e conteúdo estão associados. (...). A lógica, disse ele, é a ‘verdade sem a casca’, ou seja, a forma eterna, imutável de verdade, independentemente de um conteúdo histórico particular, embora na realidade esteja sempre ligada a algum conteúdo”, coloridos meus.

                            Veja que Hegel, como vários antes dele (entre os quais Spinoza e Nicolau de Cusa),            esteve por fundir formas e conteúdos, ou imagens e estruturas, ou superfícies e leis, num todo formestrutural que fugisse da obstrução dos pares polares de opostos/complementares à inteligência penetrante da humanidade, conseguindo então a fusão, como fiz no modelo.

                            A segunda afirmação também é chave importantíssima, porquanto por ela vemos que a forma é absoluta, não-relativa; que os conteúdos é que são, para todos os racionais, relativos, ou seja, aproximativos. A verdade é uma relatividade. Nós nos aproximamos da Verdade final aos poucos, por tentativas e erros, ao passo que a forma é absoluta desde o início.

                            Na Tela Final, onde Deus (o único que consegue chegar lá e ser absoluto, não-relativo, depois de todo o trânsito racional) está, está também a Verdade, a definitiva e absoluta Verdade, QUE é a própria forma, pelo outro lado. Em desenho direto: começamos com as formas enquanto memórias diretas e vamos compreendendo ou deduzindo as verdades ou conceitos ou conteúdos pela inteligência, daí chegando (Deus chega) até a Tela Final, donde as formas renascem, como uma fênix, num fogo abrasador, que é o Big Bang, a Boca Branca, a Grande Explosão, depois do Grande Estresse. Assim: BB, formas, memórias, conteúdos, Tela Final, renascimento explosivo.

                            Se segue daí que os orientais, preferindo um caminho diverso, enveredaram pelo lado da forma, ou seja, de perceber os desenhos intuitivamente pela colagem das formas, por assim dizer, ou seja, pela adequação formal. O Ocidente, ao contrário, seguiu o caminho da inteligência. Buda, parado e apenas olhando para dentro de si, viu todo o desenho do Mundo apenas contemplando as formas. Caminho direto, mas sem a percepção das possibilidades de construção, pois de fato as formas não têm conteúdo histórico, isto é, não é possível desenvolvê-las.                   

Veja você a potência, a inteligência de Hegel. Infelizmente ele não deu o salto para produzir o modelo, no que teríamos nos adiantado 200 anos.

                            Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

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