domingo, 1 de janeiro de 2017


Filmes Indígenas

 

                            O fato é que nós vemos as florestas de fora para dentro, visão de quem entra com medo do predador e, pior ainda, de quem entra como inimigo, como conquistador, como destruidor, como arrasador. Nós vemos a floresta como inimiga mortal, hostil, um perigo imediato que deve ser queimado, reduzido a cinzas. Até a década dos 1980 a Amazônia era chamada de Inferno Verde. Esse medo atávico tem feito com que os brancos e seus descendentes culturais ou nacionais processem fartamente as queimadas, até hoje, criando milhares de focos que são filmados por satélites, como grandes fogueiras que parecem cidades à noite.

                            Os índios, pelo contrário, as vêem como amigas, como residência, como companhia, como proteção, como identidade, como cobertura, como lar, como escola, como tudo de bom.

                            São duas visões contrastantes.

                            Enquanto se tratava de expansão das fronteiras agrícolas e pecuárias, do extrativismo a qualquer custo, não sei se fazia sentido ser destrutivo à ocidental, mas pelo menos foram lá e fizeram o serviço. Agora ficou claro que as florestas valem MUITÍSSIMO MAIS enquanto patrimônio genético, de onde extrair milhares de remédios e produtos moleculares ainda desconhecidos.

                            Evidentemente a postura indígena de proteção e conservação deve substituir essa outra, devastadora e cruel. Essa substituição passa por fazer filmes educativos, documentários, de desenhos animados das lendas indígenas, filmes curtos sobre suas vidas, filmes longos (romances, dramas, de aventuras, etc.), todo tipo de filme e de registro por pintura, por desenho, por escultura, por fotografia, por dança, por moda, por poesia, por prosa, todo tipo de tecnarte, de valorização dos indígenas e de seu modo de ser e estar nas florestas.

                            Chegou esse tempo novíssimo de louvar o lado bom dos índios (sem esquecer que os mochicas, os maias, os astecas realizaram milhões de detestáveis sacrifícios humanos – não existe isso de “o bom selvagem”, há neles um lado tão sacana quanto em qualquer cultura).

                            Realizem-se então essas centenas e até milhares de filmes.
                            Vitória, quarta-feira, 23 de outubro de 2002.

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