Filmes Indígenas
O fato é que nós
vemos as florestas de fora para dentro, visão de quem entra com medo do
predador e, pior ainda, de quem entra como inimigo, como conquistador, como
destruidor, como arrasador. Nós vemos a floresta como inimiga mortal, hostil,
um perigo imediato que deve ser queimado, reduzido a cinzas. Até a década dos
1980 a Amazônia era chamada de Inferno Verde. Esse medo atávico tem feito com
que os brancos e seus descendentes culturais ou nacionais processem fartamente as
queimadas, até hoje, criando milhares de focos que são filmados por satélites,
como grandes fogueiras que parecem cidades à noite.
Os índios, pelo
contrário, as vêem como amigas, como residência, como companhia, como proteção,
como identidade, como cobertura, como lar, como escola, como tudo de bom.
São duas visões
contrastantes.
Enquanto se tratava
de expansão das fronteiras agrícolas e pecuárias, do extrativismo a qualquer
custo, não sei se fazia sentido ser destrutivo à ocidental, mas pelo menos
foram lá e fizeram o serviço. Agora ficou claro que as florestas valem
MUITÍSSIMO MAIS enquanto patrimônio genético, de onde extrair milhares de
remédios e produtos moleculares ainda desconhecidos.
Evidentemente a
postura indígena de proteção e conservação deve substituir essa outra,
devastadora e cruel. Essa substituição passa por fazer filmes educativos,
documentários, de desenhos animados das lendas indígenas, filmes curtos sobre
suas vidas, filmes longos (romances, dramas, de aventuras, etc.), todo tipo de
filme e de registro por pintura, por desenho, por escultura, por fotografia,
por dança, por moda, por poesia, por prosa, todo tipo de tecnarte, de
valorização dos indígenas e de seu modo de ser e estar nas florestas.
Chegou esse tempo
novíssimo de louvar o lado bom dos índios (sem esquecer que os mochicas, os
maias, os astecas realizaram milhões de detestáveis sacrifícios humanos – não
existe isso de “o bom selvagem”, há neles um lado tão sacana quanto em qualquer
cultura).
Realizem-se então
essas centenas e até milhares de filmes.
Vitória,
quarta-feira, 23 de outubro de 2002.
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