domingo, 15 de janeiro de 2017


Fascismo Comteano

 

No livro As Grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos Dias, 4ª. Edição, Rio de Janeiro, Agir, 1989, o autor, Jean-Jacques Chevalier, diz, p. 315, falando de Comte (Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, dito Auguste Comte, francês, 1798 a 1857, 59 anos entre datas): “Além disso, supressão da liberdade da consciência individual contra essas crenças positivas, uma vez estabelecidas. Consideração mais dos deveres que dos direitos. Restauração do princípio de hierarquia e de autoridade, eliminação do ‘liberalismo’ sob todas as suas formas e, por conseguinte, do parlamentarismo, ‘suspensão equívoca’ na marcha das sociedades”, colorido meu.      

                            Tomei um susto quando li isso, porque é o programa do Partido Nazista (Nacional Socialista) alemão, tal como ficou evidente:

·     Supressão da liberdade DE CONSCIÊNCIA individual contra as crenças dos líderes,

·     Prestar atenção aos deveres, não aos direitos,

·     Dominância da hierarquia (chefia inconteste) e da autoridade (lei permanente, sem retoques),

·     Eliminação do liberalismo SOB TODAS AS SUAS FORMAS (qualquer conhecimento, enfim), inclusive o direito a falar,

·     Suspensão da dúvida na marcha civilizatória, ou seja, do questionamento.

Não é apenas o programa fascista, é pior, muito pior, porque nem nos seus delírios mais extremados os partidos fascistas pretenderam ir a ponto de cancelar completamente a civilização sob todas as suas formas. Como é que foram atribuir a Niezschte (Friedrich Niezschte, alemão, 1844 a 1900, 56 anos entre datas) se a morte de Comte é de 1857 e o nascimento de Nietzsche é de 1844? Quando Nietzsche estava com 18 anos, começando a perceber o mundo, Comte tinha morrido há apenas cinco anos. Claramente o domínio de linha civilizatória é de Comte, não de Nietzsche, e foi aquele que influenciou o nascimento do fascismo, não este. A Barsa diz que Nietzsche é um filósofo incompreendido e agora eu acredito piamente, porque vi com meus olhos. Claramente foi o francês e não o alemão. Aliás, parece que os ingleses iniciam, os franceses copiam e põe seu nome e os alemães imitam e ficam com a fama ruim.

E pensar que foi esse camarada, o Comte, que deu ao Brasil o lema positivista Ordem e Progresso, cravado na bandeira nacional.

Chevalier acrescenta, mesma página: “Nesse comtismo, sob condições de abstrair-se da religião, substituída pela ciência, de Deus, substituído pela Humanidade, a contra-revolução bem podia encontrar preciosos elementos para o seu combate, dum ponto de vista inteiramente ‘positivo’. Política dita natural ou experimental, podia aliar-se à política dita positiva”, colorido meu.

Mais que a contra-revolução, o mais extremado direitismo ainda não atingiu as pretensões de Comte. Cruz credo!

Vitória, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002.

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