domingo, 1 de janeiro de 2017


Escola do Futuro e Futuro da Escola

 

                            Foi tremendo erro geo-histórico (pois se deu em toda parte, em todos os tempos) as pessoas acharem que nós ensinávamos sobre o passado ou o presente. Embora seja verdade, conforme demonstrei repetidamente no modelo, que só existe o ponto, a linha, o plano e o espaço do presente, é certo que na Vida da Escola, a das elites, a da pedagogia, a da tecnociência da transferência compacta e teórica do Conhecimento (escolas mágica/artística, teológica/religiosa, filosófica/ideológica, científica/técnica e matemática), fala-se do futuro, e não do passado, como na Escola da Vida popular, prática.

                            Note que a Psicologia (figuras, objetivos, produções, organizações e espaçotempos) que é abordada pelo povo na Escola da Vida é a do passado, a que já foi referenciada, mastigada, dominada, das comodidades, das repetições (repetição das figuras, repetição dos objetivos, repetição das produções, repetição das organizações, repetição dos espaçotempos – enfim, uma vida de segunda mão). A das elites, a que é abordada na Vida da Escola, é a do futuro (figuras do futuro, objetivos do futuro, produções do futuro, organizações do futuro, espaçotempos do futuro). Como as elites poderiam continuar suplantando o povo e se superando se estudassem o já sabido, o que foi dominado até a exaustão? Na linha do presente o povo volta-se para o passado, para a conservação do que têm. As elites, sabendo que o que têm escorrerá de suas mãos rapidamente, tratam de re-inventar o futuro, pois é nele que estará a sustentação nova.

                            Então, como visão divisória, às elites interessa a Escola do Futuro, enquanto ao povo cabe viver do Futuro da Escola, isto é, do que a escola presente, virando-se para o passado, herdará das elites, como conhecimento ultrapassado, mas ainda válido para amealhar o passado. Passado e ultra-passado, obsoleto, caduco, arcaico.

                            As elites não podem viver disso, porisso a sua pedagogia característica é o ramo psicológico que denominaríamos Pedagogia do Futuro. As elites estão sempre sendo ensinadas a se futuralizar, a ver para frente, e não para trás. Nenhuma fábrica está pronta, ela está se fazendo a cada segundo, e se ela não mirar o futuro em termos de concorrência, morrerá na luta pela produção mais apta, sendo selecionada para morrer.

                            Então a locomotiva do processo é a Escola do Futuro, sendo vagões o Futuro da Escola (que é discussão pedagógica atrasada) e por último a Escola. A questão toda é que as elites devem ser DESENSINADAS do passado, a des-vestirem-se de suas roupas arcaicas, de suas consciências já formadas. E serão tanto mais elites e tanto mais aptas quanto mais se desvestirem das coisas antigas, do que foi rejeitado pelo novo. Isso não quer dizer, de modo algum, não guardar o passado (pois isso é um gesto sempre renovado).

                            Vitória, quarta-feira, 09 de outubro de 2002.

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