Escola do Futuro e Futuro da Escola
Foi
tremendo erro geo-histórico (pois se deu em toda parte, em todos os tempos) as
pessoas acharem que nós ensinávamos sobre o passado ou o presente. Embora seja
verdade, conforme demonstrei repetidamente no modelo, que só existe o ponto, a
linha, o plano e o espaço do presente, é certo que na Vida da Escola, a das
elites, a da pedagogia, a da tecnociência da transferência compacta e teórica
do Conhecimento (escolas mágica/artística, teológica/religiosa, filosófica/ideológica,
científica/técnica e matemática), fala-se do futuro, e não do passado, como na
Escola da Vida popular, prática.
Note
que a Psicologia (figuras, objetivos, produções, organizações e espaçotempos)
que é abordada pelo povo na Escola da Vida é a do passado, a que já foi
referenciada, mastigada, dominada, das comodidades, das repetições (repetição
das figuras, repetição dos objetivos, repetição das produções, repetição das
organizações, repetição dos espaçotempos – enfim, uma vida de segunda mão). A das
elites, a que é abordada na Vida da Escola, é a do futuro (figuras do
futuro, objetivos do futuro, produções do futuro, organizações do futuro,
espaçotempos do futuro). Como as elites poderiam continuar suplantando o povo e
se superando se estudassem o já sabido, o que foi dominado até a exaustão? Na
linha do presente o povo volta-se para o passado, para a conservação do que
têm. As elites, sabendo que o que têm escorrerá de suas mãos rapidamente,
tratam de re-inventar o futuro, pois é nele que estará a sustentação nova.
Então,
como visão divisória, às elites interessa a Escola do Futuro, enquanto
ao povo cabe viver do Futuro da Escola, isto é, do que a escola
presente, virando-se para o passado, herdará das elites, como conhecimento
ultrapassado, mas ainda válido para amealhar o passado. Passado e
ultra-passado, obsoleto, caduco, arcaico.
As
elites não podem viver disso, porisso a sua pedagogia característica é o ramo
psicológico que denominaríamos Pedagogia do Futuro. As elites estão
sempre sendo ensinadas a se futuralizar, a ver para frente, e não para trás. Nenhuma
fábrica está pronta, ela está se fazendo a cada segundo, e se ela não mirar o
futuro em termos de concorrência, morrerá na luta pela produção mais apta,
sendo selecionada para morrer.
Então
a locomotiva do processo é a Escola do Futuro, sendo vagões o Futuro da Escola
(que é discussão pedagógica atrasada) e por último a Escola. A questão toda é
que as elites devem ser DESENSINADAS do passado, a des-vestirem-se de suas
roupas arcaicas, de suas consciências já formadas. E serão tanto mais elites e
tanto mais aptas quanto mais se desvestirem das coisas antigas, do que foi
rejeitado pelo novo. Isso não quer dizer, de modo algum, não guardar o passado
(pois isso é um gesto sempre renovado).
Vitória,
quarta-feira, 09 de outubro de 2002.
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