Dinheiro = Desprezível
Dizem
que havia um pastor que não queria tocar em dinheiro de modo nenhum; abria o
bolso com cuidado e mandava que colocassem lá dentro.
Até
antes da Rede Cognata eu não poderia atinar porque as pessoas detestam o
dinheiro, se ele é apenas o veículo (em papel, em metal, em cartão de plástico,
em números bancários, em cheques) das transações, das trocas, uma balança
funcional das transferências de info-controle.
Porque,
no fundo, todas as pessoas sentem repugnância.
Acontece
que, na língua portuguesa e com este alfabeto, na Rede Cognata dinheiro =
DESPREZÍVEL = DEMÔNIO = DIFERENÇA = DEUS = DUPLO = TRAIÇÃO = TESÃO = TRAMPO =
TORÇER = TROÇO, etc. Por quê seria assim? Se é tão útil, porque é ao mesmo
tempo amado, até adorado por alguns, e no fundo mesmo é detestado por todos
como sujo, impuro, imoral?
Penso
que é porque o dinheiro é a encarnação de tudo que é miserável no ser humano:
ele medeia a traição, a vilania, a venda de informações confidenciais, o
tráfico e o consumo de drogas, a encomenda de crimes, tudo que é podre,
detestável e vil no ser humano –e são tantas coisas!
Ele
também permite a construção de hospitais e o pagamento de seus abnegados
servidores, a educação, a proteção de vidas, a justa remuneração, todas as coisas
boas. Porém nisso nós não pensamos realmente, como não vemos o que as criaturas
fazem de bom quando as detestamos. Quando odeia alguém a pessoa faz questão de
esquecer que nenhum indivíduo pode ser totalmente ruim (mas algumas se
aproximam bastante disso).
Ora,
com o dinheiro passa-se exatamente a mesma coisa: nós nunca lembramos que ele
também é símbolo das boas coisas da vida. Só nos recordamos de todas as
torpezas, todas as baixezas, todas as infâmias, todas as obscenidades que ele
intermedia.
Fica
só a face suja do dinheiro, que serve como pano de fundo de toda a sua
utilidade.
Vitória,
domingo, 03 de novembro de 2002.
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