domingo, 1 de janeiro de 2017


Dinheiro = Desprezível

 

                            Dizem que havia um pastor que não queria tocar em dinheiro de modo nenhum; abria o bolso com cuidado e mandava que colocassem lá dentro.

                            Até antes da Rede Cognata eu não poderia atinar porque as pessoas detestam o dinheiro, se ele é apenas o veículo (em papel, em metal, em cartão de plástico, em números bancários, em cheques) das transações, das trocas, uma balança funcional das transferências de info-controle.

                            Porque, no fundo, todas as pessoas sentem repugnância.

                            Acontece que, na língua portuguesa e com este alfabeto, na Rede Cognata dinheiro = DESPREZÍVEL = DEMÔNIO = DIFERENÇA = DEUS = DUPLO = TRAIÇÃO = TESÃO = TRAMPO = TORÇER = TROÇO, etc. Por quê seria assim? Se é tão útil, porque é ao mesmo tempo amado, até adorado por alguns, e no fundo mesmo é detestado por todos como sujo, impuro, imoral?

                            Penso que é porque o dinheiro é a encarnação de tudo que é miserável no ser humano: ele medeia a traição, a vilania, a venda de informações confidenciais, o tráfico e o consumo de drogas, a encomenda de crimes, tudo que é podre, detestável e vil no ser humano –e são tantas coisas!

                            Ele também permite a construção de hospitais e o pagamento de seus abnegados servidores, a educação, a proteção de vidas, a justa remuneração, todas as coisas boas. Porém nisso nós não pensamos realmente, como não vemos o que as criaturas fazem de bom quando as detestamos. Quando odeia alguém a pessoa faz questão de esquecer que nenhum indivíduo pode ser totalmente ruim (mas algumas se aproximam bastante disso).

                            Ora, com o dinheiro passa-se exatamente a mesma coisa: nós nunca lembramos que ele também é símbolo das boas coisas da vida. Só nos recordamos de todas as torpezas, todas as baixezas, todas as infâmias, todas as obscenidades que ele intermedia.

                            Fica só a face suja do dinheiro, que serve como pano de fundo de toda a sua utilidade.

                            Vitória, domingo, 03 de novembro de 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário